Participei, direta ou indiretamente de nove eleições municipais. Dessas, perdi quatro.
Tenho alguma experiência para dizer que perder não é fácil. Traz, em princípio, uma certa amargura, um sen- timento de ter sido traído, de ter sido injustiçado.
Entretanto, com o passar do tempo, depois de algumas reflexões, com a cabeça mais fria, vamos entendendo as razões da nossa derrota e da nossa frustração.
As derrotas ensinam muito mais do que as vitórias. Depois delas, ficamos mais humildes, mais fortes e mais maduros para enfrentarmos outras empreitadas porque política é isso mesmo, uma sucessão de eventos. E o que faz a democracia interessante é a possibilidade de rotatividade do poder.
Em princípio, depois de um fracasso nas urnas, a pessoa se enclausura por algum tempo e mantém contato somente com amigos mais próximos ou familiares. Destilar o fel por aí afora faz muito mais mal para quem não foi bem sucedido no pleito. Já sugeriram que o voto não fosse secreto. Mas, é melhor que seja assim como é. Já pensou se você soubesse quem votou no candidato “a” ou no “b”? Você poderia ter boas surpresas, mas as decepções seriam muito maiores porque o negativo atrai muito mais.
A sociedade brasileira clama por alguma liderança bolsonarista – já que o presidente se fechou em copas- -que venha a público para dizer: “acabou, gente. Vão para casa. Preparem-se para daqui quatro anos. Porque política é assim mesmo, ora se ganha, ora se perde.”
Ao invés disso, ficam os áulicos do poder difundindo teorias conspiratórias e alimentando expectativas de que o pleito pode ser anulado. Tenho visto por aí vários carros ainda adesivados, como se a eleição não tivesse terminado. Quanto antes cada um for cuidar das suas vidas, acredito, mais rapidamente o país poderá voltar a se harmonizar, porque o radicalismo não interessa para ninguém.
Alguns pessoas disseram que não torceriam para o Brasil na Copa porque o Neymar era bolsonarista, e que a camiseta amarela remete ao bolsonarimo e, ain- da, que o Qatar não preserva os direitos humanos, etc
Tenho dito que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.” Na Copa de 1970, houve manifestação semelhante. Entendiam muitos que a vitória da seleção seria o fortalecimento dos generais que comandavam a nação. Mais tarde, percebemos que nada disso se deu. Já em 1974, o governo sofreria fragorosa derrota nas eleições daquele ano.
O Qatar, de fato, é uma ditadura. Não sei os critérios que levaram a FIFA a escolher o país como sede do torneio. Entretanto, há, pelo menos um ponto positivo da escolha da FIFA. Os jogadores de nações democráticas têm tido a oportunidade de se manifestar em solidariedade aos catares oprimidos pelo governo.
Os jogadores da esquadra inglesa, quando adentraram ao gramado, ajoelharam-se e fizeram sinais característicos de protesto com os braços. Os alemães, por seu turno, quando se postaram para as fotos, com as mãos, cobriram a boca, demonstrando a censura que sofriam por não poderem estampar nas suas camisetas a sua revolta contra a perseguição que as minorias sofrem naquele país. Os jogadores iranianos, por sua vez, deixaram de cantar o seu hino nacional, em solidariedade às mulheres que clamam por liberdade na nação iraniana.
Aos olhos do mundo, pois bilhões assistem à copa do mundo, estas manifestações reverberam e infundem na comunidade global que é possível um mundo de paz e de liberdade.
Não é de hoje que tais acontecimentos se revestem de conotações políticas. Já, em 1936, nos jogos olímpicos de Berlim, Hitler queria mostrar ao mundo a supremacia ariana. Deu-se mal. O negro americano Jesse Owens deixou o fuhrer perplexo e furioso, abiscoitando nada menos do que quatro medalhas de ouro.
Na política, como no esporte, a derrota é sempre uma das possibilidades e quem não estiver preparado para ela vai sofrer muito além do que deveria. Compete, pois, àqueles que têm mais experiência transmitir aos mais jovens esta outra face da moeda.
POR NILSON BORTOLOTI (PROFESSOR APOSENTADO, EX-PREFEITO E EX-VEREADOR EM MUZAMBINHO)