Fui, dia desses, no lar de idosos da minha cidade: O Lar de Idosos Santo Antônio. Passagem tão breve que nem cogito chamar de visita. Na hora, uma série de memórias vieram à minha cabeça, de quando ainda criança ia até lá na companhia de meus avós maternos, Noely e Conceição Carvalho. Eu ainda não entendia muito bem o que era aquele lugar, como ele funcionava e até mesmo o porquê dele existir. E não estava ali na condição de visitante, uma vez que meus avós iam sempre para ajudar. Disso lembro muito: Meus avós sempre engajados em questões sociais de Cabo Verde. Soube só depois que, ainda antes deles, meus avós paternos, Mucio e Lourdes Toledo, também estiveram muito por lá ajudando; alías, participando desde a fundação desta instituição. Dos quatro, três partiram deste plano. Hoje, tenho minha querida avó Conceição, fiel leitora dos meus textos e de longe a artista plástica/artesã que mais admiro. Com certeza, me inspirar neles me faz ser uma pessoa muito melhor. Talvez, por isso, chegar no Lar de Idosos me fez sentir algo tão diferente. Um sentimento de que preciso, enquanto cidadão e também enquanto neto de quem sou, ajudar da melhor forma possível.
Assistindo à reunião ordinária da Câmara Municipal, acompanhei as falas da Neusa Vilela, que assumiu como nova diretora da Instituição. Lá, estava ela e outros que compõem a nova diretoria; pessoas conhecidas na cidade pelo caráter e pelo desprendimento. E assim sempre foi e sempre será. O estalar da consciência para as questões sociais parece ser nato de algumas pessoas, ao mesmo tempo em que outras podem ser contagiadas pelo altruísmo ao longo da vida. Estas pessoas sempre vestirão a camisa e não abandonarão o barco. E como faz diferença ter este perfil à frente de entidades e causas assim. Mas certos problemas não somem, mesmo sob a tutela destes. São problemas de ordem financeira; algo que não é novidade nem exclusivo do Lar de Idosos Santo Antônio.
O Terceiro Setor, que abrange as entidades comprometidas com questões sociais das mais variadas áreas, existe – e sobrevive – através do apoio e acolhimento social e, principalmente, do amparo financeiro vindos do setor público e privado. Sem isto, as possibilidades de ações se resumem a zero. Utilizando o próprio Lar como exemplo, temos uma gama de despesas que não conseguem ser suprimidas com as receitas fixas que possuem. Despesas, sobretudo, de caráter Pessoal (colaboradores e prestadores de serviço). Então, constantemente, existe uma “batalha” para correr atrás de recursos para esta conta fechar. Mas esta “batalha” não pode ser institucionalizada, como se fosse um procedimento padrão.
E a importância das palavras da nova diretora da instituição foi neste ponto: Não dá para o Lar (ou qualquer entidade que seja) seguir se baseando em doações. Porque, até mesmo recursos vindos de emendas parlamentares, acabam soando como uma espécie de caridade feita; ao passo em que Políticas Públicas podem e devem existir para que haja maior segurança da instituição. Não que os donativos não tenham importância. Como foi dito pela diretora Neusa, o que seria do Lar sem as doações? As ações da sociedade civil (campanha de arrecadação e realização de eventos) devem seguir e, como sempre, serem abraçadas pela população. As doações vindas de empresas e os recursos destinados pelo poder público também seguirão de enorme valia.
Desconheço a realidade das Instituições de Longa Permanência de Idosos aqui da região, mas acredito que devam vivenciar cenários parecidos. Então, cabe aos representantes locais do povo (vereadores) correrem atrás de recursos com seus contatos políticos em Belo Horizonte e em Brasília. E cabe ainda mais cobrarem pela existência de Políticas Públicas efetivas de amparo às instituições de acolhida aos idosos.
Aos que assumem a diretoria do Lar de Idosos Santo Antônio, desejo muito empenho e sucesso. À população cabo-verdense, que tenha sempre olhos atentos às nossas instituições e aos que são amparados por elas. Ao poder público local, que seja cada vez mais assertivo na promoção social, incluindo no apoio incondicional àqueles que já atuam com isso. Aos “avós de todos nós”, que hoje descansam de suas caminhadas da vida lá no Lar, desejo serenidade e saúde nos seus dias; que estejam sempre acolhidos, e sejam visitados por seus familiares. Ao amigo Salu, um “jovem senhor” – ou melhor, um “senhor jovem” – que conheci na ocasião da minha ida até o Lar, um carinhoso abraço.
POR: LUCAS FILIPE TOLEDO |
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