A pujança poética na música

Share on facebook
Facebook
Share on whatsapp
WhatsApp
Share on email
Email
Share on print
IMPRIMIR
Share on facebook
Share on whatsapp
Share on email
Share on print

 

“Tu pisavas nos astros distraída…”
(Canção “Chão de estrelas”)

A crônica literária registra uma manifestação de Manuel Bandeira, que causou na época em que foi feita, anos atrás, grande surpresa e chegou a provocar polêmica. Indagado sobre quais seriam os mais belos versos da poesia brasileira, o grande vate, sem titubeios, respondeu: “Tu pisavas nos astros distraída”. A resposta colocou no foco das atenções um clássico da MPB, “Chão de estrelas”, de onde os versos apontados por Bandeira foram retirados. Conferiu, também, justo realce a um excelente poeta popular que não frequentava os salões acadêmicos refinados. Orestes Barbosa, coautor da melodia, ao lado do portentoso intérprete Sílvio Caldas.
Arrostando rançosos preconceitos com o veredito proferido, Manuel Bandeira convidou-nos, de certa maneira, com a autoridade de inconteste conhecedor do fascinante oficio de versejador, a aprender extrair das canções populares brasileiras preciosos achados poéticos.
Partilhando dessa certeza de que a incomparável música popular feita no Brasil é repositório de poesia da melhor qualidade resolvi, quando de minha passagem pela Rede Minas de Televisão, abrir espaço especial num dos programas que criei (“Um livro aberto”, dedicado à temática literária) para interpretações musicais do cancioneiro nacional. O canto era acompanhado de comentários sobre os versos das composições. Dentro dessa linha de raciocínio, resolvi também, ampliar a tal coleção de frases, a que fiz alusão em papo recente, com letras de melodias conservadas no enlevo das ruas.
Algumas delas. “A felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar; tão leve, mas tem a vida breve, precisa que haja vento sem parar” (“A felicidade”, tema do filme “Orfeu negro”, Vinicius de Moraes e Tom Jobim). / “Mas que bobagem, as rosas não falam. Simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti…” (“As rosas não falam”, de Cartola). / “Atire a primeira pedra, ai, ai, ai. Aquele que não sofreu por amor” (Mário Lago e Ataulfo Alves). / “Vê, estão voltando as flores. Vê, nessa manhã tão linda. Vê, como é bonita a vida. Vê, há esperança, ainda” (“Estão voltando as flores”, Paulo Soledade). / “Quem nasce lá na vila, nem sequer vacila em abraçar o samba, que faz dançar os galhos do arvoredo e faz a lua nascer mais cedo” (“Feitiço da vila”, Vadico e Noel Rosa). / “Batuque é um privilégio, ninguém aprende samba no colégio” (“Feitio de oração”, Noel e Vadico). / “Se a lua nasce por detrás da verde mata mais parece um sol de prata, prateando a solidão” (“Luar do sertão”, Catulo da Paixão Cearense). / “Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe, faz a hora, não espera acontecer” (“Pra não dizer que não falei de flores”, Geraldo Vandré) / “O mundo é uma escola, onde a gente precisa aprender a ciência de viver, pra não sofrer” (“Pra machucar meu coração”, Ary Barroso) / “Fazer samba não é contar piada, quem faz samba assim não é de nada; um bom samba é uma forma de oração, porque o samba é a tristeza que balança e a tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser mais triste não”. (“Samba da bênção”, Vinicius e Baden Pawell). / “Ai! Que amar é se ir morrendo pela vida afora. É refletir na lágrima, um momento breve de uma estrela pura cuja luz morreu” (Serenata do Adeus”, Vinicius). / “Nesta viola eu canto e gemo de verdade; cada toada representa uma sodade” (“Tristeza do Jeca”, Angelino de Oliveira). / “Tu és, de Deus a soberana flor. Tu és de Deus a criação, que em todo o coração sepultas o amor, o riso, a fé e a dor em sândalos olentes” (“Rosa”, Pixinguinha). / “O mar, quando quebra na praia, é bonito, é bonito…” (Dorival Caymmi). / “Você que só ganha pra juntar. O que é que há? Diz pra mim, o que é que há? Você vai ver um dia em que fria vai entrar. Por cima uma laje, embaixo a escuridão. É fogo, irmão; é fogo, irmão” (“Testamento”, Vinicius e Toquinho).

Cesar Vanucci – Jornalista (cantonius1@yaoo.com.br)

Belo Horizonte, MG

Notícias Recentes