Porque se chamava Lô, também se chamava estrada

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Relação entre Lô Borges, que morreu aos 73 anos, e as variadas paisagens de Minas

Nesta segunda-feira (3/11), as músicas mineira, brasileira e mundial estão de luto. Faleceu Salomão Borges Filho, ou simplesmente Lô Borges, fundador, ao lado de Milton Nascimento, do Clube da Esquina, maior movimento da história da MPB. Se o Clube da Esquina é admirado em todo o planeta, para nós, mineiros, é muito mais do que música. Faz parte de nossa identidade.

Em Geografia, costuma-se dizer que a paisagem é tudo aquilo apreendido pelos órgãos sensoriais. É muito mais do que os “olhos veem”. Nesse sentido, as “montanhas” de Minas não foram apenas formadas e moldadas por agentes do relevo; têm como trilha sonora os acordes dissonantes de Lô Borges, Toninho Horta, Wagner Tiso e companhia. Eu disse “montanhas”, entre aspas, porque o termo técnico correto é “mares de morros”. Mas não entrarei nessa discussão aqui.

 

Paisagens
Composto por Lô Borges e Milton Nascimento, em 1972, e com letra de Marcio Borges, feita no final daquela década, o clássico “Clube da Esquina nº 2” é o hino de Minas Gerais. “Porque se chamava moço, também se chamava estrada, viagem de ventania. Nem lembra se olhou pra trás, ao primeiro passo, asso, asso”.

As paisagens da janela lateral, do quarto de dormir, nos remetem às cidades históricas mineiras de Diamantina, Ouro Preto, São João del-Rei, Sabará e Tiradentes, onde vemos uma igreja, um sinal de glória, um muro branco, um voo pássaro, uma grade e um velho sinal. E essas paisagens alterosas, naturais e humanas, também foram cantadas por Lô Borges em canções como “Chuva da Montanha”, “A Força do Vento” e “Manuel O Audaz” e “Equatorial”. Já o lirismo mineiro está presente em “Ela”, “Sonho Real” e “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”.

 

Trem
Dizem que, em Minas, tudo é “trem”. E isso não poderia faltar no repertório de Lô Borges. Para o clássico álbum “Clube da Esquina”, ele compôs com Ronaldo Bastos “Trem Azul”, homenagem a Tom Jobim – que posteriormente regravaria uma versão em inglês da música. 

Com uma obra que atravessa gerações, no século XXI as parcerias de Lô Borges ainda renderam os sucessos “Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor” e “Dois Rios”. Nesta última música, há o inconfundível cromatismo que caracteriza o Clube da Esquina. Aliás, a mistura musical – que vai do barroco mineiro aos Beatles, passando pelo jazz, bossa nova e rock progressivo – fez do Clube da Esquina um movimento único, que soa, ao mesmo tempo, como “regional” e “universal”. Sobreposição de escalas (musicais e espaciais).

 

Minas Gerais
Como disseram Lô Borges, Fernando Brant e Márcio Borges, em “Para Lennon e McCartney”, mais do que o “lixo ocidental”, somos o mundo, somos Minas Gerais.

 

Artigo de Opinião / O Tempo

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