Um dos assuntos mais falados dos últimos dias, sem dúvidas, foi quanto aos shows de cantores sertanejos, com cachês altíssimos, sendo pagos com dinheiro público. O caso que ganhou mais destaque foi o da cidade mineira de Conceição do Mato Dentro, que receberia o show de Gusttavo Lima para uma festividade local pela bagatela de R$1,2 milhão, oriundo dos cofres municipais. Porém, esta história ganhou traços mais politizados, desse maniqueísmo que a gente vem vivendo há alguns anos. Houve, por exemplo, o argumento da oposição bolsonarista de que existem aqueles que criticam a Lei Rouanet (lei de incentivo artístico no período de pandemia) mas topam se apresentar com pagamento feito por dinheiro público, por vezes com cachês até maiores que o habitual. Não obstante, o que chamou mais atenção, sendo, inclusive, destaque no jornal Estado de Minas do dia 31/05, foi quanto à situação de obras públicas paradas há tempos nestas mesmas localidades.
A pauta não é orçamento público para se valer quanto ao destino inflexível que o dinheiro público possui, mas sim de levantar este certo mal estar ao vermos tanto dinheiro para determinada situação ao passo em que obras elementares seguem em dormência e outras políticas públicas não são se quer discutidas.
Seria incabível alguém refutar um evento com shows mais renomados pelo simples desinteresse pelo estilo musical. O que se questiona, na verdade, são os elevados preços cobrados. É por isso que deve-se bater muito na tecla da transparência. É por isso, também, que é fundamental existir oposição política, que tenha esta cede pela fiscalização, que seja justa e coerente.
“Pão e Circo” (panem et circenses) é uma expressão que remonta ao período do Império Romano, numa alusão de como a aristocracia lidava com a plebe. De uma forma deturpada, dizia-se que o povo era controlado pelo alimento (trigo, ou, no caso, o pão) e pelo entretenimento (espetáculos, representado pelo circo), como se o povo fosse despolitizado e apático. Os historiadores da atualidade, porém, mostram que não havia este conformismo popular à base do pão e circo; que, na verdade, era pouco perto da labuta que viviam. É uma política antiga, aristocrata, retrógrada e não há quem, hoje em dia, que queira se beneficiar de algo semelhante. É por essas e outras que os atos dos gestores públicos precisam ser sempre acompanhados pela população e, principalmente, por aqueles que a representam (vereadores).
Agora cabe uma grande ressalva: Jamais entenderia como uma ação antiquada aquela feita pelo poder público, que vise promover espaços de lazer e entretimento, sobretudo quando acessíveis. Na verdade, além deste benefício à população, é uma forma de valorizar a cultura e os artistas, num modo geral. As ações só precisam ser prudentes, sem prejudicar os cofres públicos, coerentes com a infraestrutura local e coesas com as demandas sociais, que não se pautam apenas de lazer (claro, não estou nem cogitando a hipótese de um eventual caso de corrupção). Que assim seja!
Por Lucas Filipe Toledo (lucasfilipetoledo@yahoo.com.br)