Muzambinho, 14 de janeiro de 2025

1,5 Bi: ALMG aprova PEC que autoriza transferência direta no acordo da Vale aos municípios

Share on facebook
Facebook
Share on whatsapp
WhatsApp
Share on email
Email
Share on print
IMPRIMIR
Share on facebook
Share on whatsapp
Share on email
Share on print

Proposta foi aprovada em primeiro turno por 70 votos a 3. Governo Zema e deputados do Novo argumentam que proposta não resolve problema.

A Assembleia Legislativa de Minas Gerais aprovou na manhã da terça-feira (6) por 70 votos a 3 a proposta de emenda à Constituição que prevê que o governo de Minas possa realizar transferência especial para repassar R$ 1,5 bilhão do acordo com a Vale para os municípios mineiros. Houve um voto em branco, do deputado Virgílio Guimarães (PT).

A PEC foi aprovada em primeiro turno. Pelo regimento interno da Casa, são necessários pelo menos três dias de intervalo para que a proposta possa ser analisada novamente em plenário, desta vez de forma definitiva. Isso significa que o texto será analisado em segundo turno a partir de segunda-feira (12).

Por tratar-se de uma emenda à Constituição, não é necessária a sanção do governador Romeu Zema (Novo). O presidente da ALMG, Agostinho Patrus (PV), tem a prerrogativa de promulgar a PEC.

A proposta inclui na Constituição Estadual a autorização para se gastar, por meio de transferência especial, os recursos extraordinários que entrarem nos cofres estaduais e que superarem 1% da Receita Corrente Líquida.

O acordo do governo de Minas com a Vale como reparação pelo rompimento da barragem em Brumadinho atende este critério. Pelo acordo, a mineradora vai executar R$ 26 bilhões em ações e obras e outros R$ 11 bilhões serão repassados aos cofres estaduais para o Executivo realizar suas intervenções. Deste valor, até agora R$ 1,1 bilhão já foi depositado na conta do Estado.

Da quantia que entrará nos cofres públicos, a ALMG propôs em um projeto de lei separado destinar R$ 1,5 bilhão para as prefeituras a título de auxílio emergencial municipal, de forma proporcional à população. A ideia dos deputados é usar a transferência especial para repassar este recurso direto para as contas das prefeituras, que decidirão em quais obras usá-lo. O repasse seria obrigatório, algo que também consta da PEC.

Os parlamentares favoráveis à transferência especial consideram que não era necessária uma alteração na Constituição para que o R$ 1,5 bilhão fosse transferido diretamente para as prefeituras. 

Porém, diante do argumento do governo Zema de que a transferência especial descumpriria o acordo com a Vale — o governo defende a realização de convênios para poder controlar que o dinheiro seja gasto conforme acordado com a mineradora —, 32 deputados apresentaram a PEC para deixar claro no texto constitucional a previsão da transferência especial.

Apesar da posição do Palácio Tiradentes, o líder de Governo na ALMG, deputado Gustavo Valadares (PSDB) orientou o bloco governista a votar de forma favorável à PEC. Segundo ele, o governo “nunca foi contra” a transferência especial e sempre esteve ao lado dos deputados para o repasse aos municípios.

“O governo está buscando maneiras legais de fazê-lo sem que corra o risco amanhã de ter seus secretários podendo sofrer ação de improbidade administrativa por estarem descumprindo um acordo assinado a muitas mãos, com Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual, Defensoria Pública e a participação do Tribunal de Justiça”, explicou.

“Então, o governo nunca foi contra. A PEC é um caminho que busca trazer legalidade à transferência especial. Então, nós somos favoráveis”, concluiu Valadares.

Apenas os deputados do Novo votaram contra: Guilherme da Cunha, Laura Serrano e Bartô.

Para o líder da oposição, André Quintão (PT), com a aprovação da proposta, o obstáculo jurídico apontado pelo governo fica superado.

“Nós estamos resolvendo um problema para o governo. Essa PEC é para garantir segurança jurídica. Agora, se tem gente no governo que queria o cheque em branco, que queria que a Assembleia dissesse ‘sim, senhor governador, faça o que quiser’, vai ter que buscar outro argumento”, declarou.

Segundo ele, o próprio acordo com a Vale prevê que os recursos sejam gastos em áreas como segurança hídrica, transporte público, obras rodoviárias, reestruturação de hospitais, convivência com a seca, cultura, turismo, agricultura, pecuária, melhoria infraestrutura dos municípios, segurança rural e ações de enfrentamento à Covid-19. 

“E mais um conjunto de ações que qualquer município pode gastar o recurso. Eu ouvi representantes do governo dizendo que a PEC não resolveria porque os prefeitos teriam que gastar conforme está no acordo. Eu mencionei aqui as áreas que estão no acordo. É simples: o próprio governo pode fazer por decreto a regulamentação. ‘Olha, vamos passar sim os recursos, mas no acordo tais áreas estão previstas e vocês têm que seguir isso’. Pronto, tá resolvido. Não tem polêmica.”, concluiu Quintão.

Deputado do Novo diz que PEC é incoerente e não resolve impasse

O deputado governista Guilherme da Cunha (Novo) disse que a origem da PEC é a incoerência e o resultado dela será a ilusão. Ele classificou a proposta como “cortina de fumaça” para esconder a demora na aprovação do projeto de lei que autoriza o Executivo a gastar R$ 11 bilhões do acordo com a Vale.

“Anteriormente a Assembleia Legislativa apressou-se a aprovar uma PEC para exigir que esses recursos da Vale passassem pelo Legislativo para que o governador não recebesse um cheque em branco”, disse. “[Agora] O nosso impasse está no desejo de transferir esse recurso na forma de cheque em branco para 853 prefeitos. É a incoerência”, acrescentou o parlamentar.

“Mas o resultado é a ilusão porque ela não resolve de fato o problema. O problema que impede a transferência especial desses recursos não está na nossa Constituição, o problema está na destinação expressa dos recursos presente no acordo que foi homologado na Justiça e transitou em julgado”, concluiu Guilherme da Cunha, que votou contra a PEC.

Assim como o deputado do Novo, o governo de Minas considera que a emenda à Constituição não resolve os entraves que levaram ao impasse com os deputados. Segundo o Palácio Tiradentes, o texto do acordo com a Vale prevê que a verba seja gasta em áreas específicas.

Para garantir que isso seja cumprido, o governo defende que é necessária a modalidade de convênio, onde as prefeituras informam primeiro como vão gastar o dinheiro, o governo analisa se está em conformidade com o acordo com a mineradora e só então libera o dinheiro.

“Ainda que o Tribunal de Contas do Estado exerça a fiscalização que lhe compete e mesmo considerando que não há desconfiança em relação aos gestores municipais, a questão central é que, neste cenário [da transferência especial], os gestores do Estado de Minas Gerais seriam pessoalmente responsabilizados sobre toda a execução dos recursos nos 853 municípios, sem nenhum instrumento de controle”, explicou o governo em nota.

(PEDRO AUGUSTO FIGUEIREDO – O TEMPO)

 

Notícias Recentes