A Câmara Municipal de Guaxupé promoveu, na última terça-feira, 09 de abril, a partir das 19h00, uma audiência pública para ouvir a população a respeito dos problemas de saúde pública no município.
O evento foi coordenado pelo vereador Marcelo Araújo Cunha.
Dos 13 vereadores, apenas sete compareceram: Donizetti Luciano, Everson Inocêncio, Gustavo Vinícius, Marcelo Araújo Cunha, Maria José Marcelino, Marco Aurélio Sarrassini, e Wilson Ruiz de Oliveira, sendo que os demais deixaram de comparecer.
Do público apenas três pessoas compareceram, além do médico José Silvério Filho, de representantes da administração municipal e do superintendente da Santa Casa de Misericórdia de Guaxupé Rafael Olinto.
Ao longo dos últimos tempos o atendimento em saúde tem sido alvo de pesadas e severas críticas por parte de alguns dos vereadores e de populares.
Abertos os trabalhos, Marcelo Araújo, em tom categórico, mencionou que pretendia deixar registrada a sua “indignação pela falta de humanização de determinados profissionais que atuam no Pronto Socorro e que estas pessoas precisam se adequar”. Ele também declarou que é inaceitável e inadmissível que pacientes esperem por três ou mais anos na fila de cirurgias eletivas. Segundo o vereador, uma paciente já vem aguardando a realização de uma cirurgia a três anos; que o quadro clínico da mesma se agravou, ela teve que ser internada, e nem assim passou pelo procedimento cirúrgico.
Advogado Paulo César
Dentre os populares que se encontravam presentes, o advogado Paulo César falou a respeito de um verdadeiro descaso com que uma sua cliente vem enfrentando; que esta senhora, com 47 anos de idade, vem passado por problemas “convulsivos”; que ela teria tentado agendar uma consulta médica nas unidades básicas do município, porém não obteve êxito; que esta senhora teria sido acolhida no hospital Alzira Velano, de Alfenas; que a secretaria municipal de Saúde de Guaxupé teria deixado de fornecer os medicamentos prescritos para a paciente e que não restou outra alternativa que não fosse o ajuizamento de uma ação na comarca local, com pedido de liminar.
De forma categórica, o advogado declarou que o secretário municipal de saúde precisa visitar pessoalmente as unidades de saúde, e demais repartições de sua área, para verificar em loco os problemas existentes.
Anibal Zeitune da Rocha
Anibal lamentou a ausência dos vereadores faltosos e da população.
No entendimento dele o Pronto Socorro precisa ser melhor organizado e que determinados pacientes têm aguardado de quatro a oito horas para serem atendidos e que é preciso ter vontade política para resolver o problema.
Dona Nena
A servidora pública aposentada, senhora Maria Aparecida dos Santos Ribeiro, fez severas e pesadas críticas a respeito do procedimento de um determinado médico que teria atendido o marido da mesma; que o profissional teria diagnosticado o marido dela com câncer, concedendo-lhe alta hospitalar; que este diagnóstico não teria sido confirmado por outros médicos.
Superintendente da Santa Casa
O superintendente da Santa Casa, advogado Rafael Olinto, através de um telão, apresentou um relatório a respeito do hospital que hoje conta com cerca de 380 funcionários e mais de 100 médicos.
Parece que a fundamentação de Rafael Olinto não convenceu Marcelo Cunha, tendo este dito: “precisamos saber como está sendo feito o atendimento aos pacientes, será que eles estão satisfeitos com o atendimento?” A partir dai o vereador foi enumerando as “mazelas” do Pronto Socorro; disse que a administração municipal vem acumulando superavit, deixando de fazer as aplicações em saúde; que com estes recursos seria possível remunerar médicos num período de 13 anos, amenizando o sofrimento da população.
Rafael Olinto argumentou as limitações do espaço físico do Pronto Socorro e de pessoal para atendimento da população.
Secretário de Saúde
O secretário municipal de Saúde, Adilson de Iório, como já vem sendo alvo de pesadas e severas críticas por parte de determinados vereadores, “pisando em ovos”, tentou contornar a situação, não rebateu as críticas. Tentando amenizar a situação, num longo e interminável pronunciamento, fundamentou que o problema seria um orçamento “fininho” e insuficiente para atender a demanda e que o SUS paga valores irrisórios a título de honorários médicos, o que dificulta a contração, principalmente de médicos especialistas.
O cerne da questão
Tanto o secretário municipal de Saúde como o superintendente da Santa Casa deixaram transparecer o que parece ser o cerne da questão.
Os médicos das unidades básicas de saúde deveriam cumprir uma jornada diária de quatro horas de segunda a sexta feira, o que já foi muito cobrado pelo Ministério Público. Salvo melhor juízo, num acordo de cavalheiros, esta jornada de trabalho foi “modificada” por um número de atendimentos diários.
Desta forma, muitas pessoas procuram atendimento no Pronto Socorro, sobrecarregando o mesmo.
Dados não oficiais dão conta de que 80% dos atendimentos do Pronto Socorro não caracterizam urgência ou emergência, portanto poderiam ter sido solucionados nas unidades básicas de saúde. Dados estes demonstrados através dos cartões por cor no Pronto Socorro (Projeto Manchester).
O segundo problema seria o baixo valor pago pelo SUS, dez reais (isto mesmo dez reais) por uma consulta médica e R$60,00 por uma consulta de especialista, além do valor irrisório pago por um procedimento cirúrgico, o que não cobre os custos e ninguém quer assumir os prejuízos.
O terceiro problema seria o de espaço físico. A Santa Casa tem que manter uma sala de cirurgia reservada para uma eventual emergência, outra para atendimento através dos convênios, que remuneram um valor que cobre os custos, além de outra para atendimento dos pacientes particulares, valor melhor remunerado.
Protocolos de saúde estabelecem que estes centros cirúrgicos, após serem usados, necessariamente precisam passar por um processo de desinfecção, ficando impedidos de serem usados por um determinado período.
Falando à reportagem do jornal, Rafael Olinto disse que estes seriam os principais “gargalos” da saúde pública, porém a Santa Casa conjuntamente com a secretaria municipal de saúde vem tentando administrar a situação, evitando problemas com a Justiça, e na tentativa de equilibrar as contas da Hospital.
(Colaborou: Wilson Ferraz)