Guaxupé desde os seus primórdios se destacou pelas suas casas noturnas de diversões para adultos, mais especificamente os bordéis, as casas de prostituição e a chamada zona do meretrício. As proprietárias destes estabelecimentos, ao longo da história da cidade, sempre tiveram o reconhecimento, o respeito das autoridades, dos detentores do poder e “do dinheiro” e porque não dizer do homem simples do povo. O fato é tão verdadeiro que no século passado uma rua que homenageava o delegado de polícia assassinado, Capitão João Machado, teve o seu nome alterado para “Rua d’ Aparecida”, denominação que vem sendo mantida até os dias atuais. Aparecida foi proprietária de uma casa de prostituição localizada naquela rua.
Infelizmente estes fatos não ficaram registrados nos anais da história, porém algumas publicações do jornal Folha do Povo podem ajudar a elucidar estas afirmações.
Em 21 de setembro de 1991 o saudoso médico, Dr. Alberto Carlos Pereira fez publicar um artigo no mencionado semanário.
Segundo o médico, a Rua d’Aparecida, em seus primórdios, no final do século XIX, não passava de uma viela, partia da várzea e se entortando pelo lado dos Macedos, buscando o sertão das fazendas Bom Jardim, Tulha, Bocaina e adjacências. Naqueles tempos era um caminho de tropeiros, colonos e fazendeiros, apesar de que já contava com dois açougues, uma venda, uma funilaria de canecas, lamparinas e chocolateiras; uma parteira, um dentista, um “doutor” e 10 bordéis.
Dr. Albertinho, como o médico era mais conhecido, enumerou algumas das casas de prostituição localizadas naquela rua, a da Chiquinha Pinto, a da Minervina Landi, a da Chiquinha Amaral, o cortiço denominado Curral da Vó, a pensão da Joana Emboaba, a da Maria Fogo Apagou, entre outros, além da tal Aparecida.
No final do século XIX o então subdelegado de polícia, Capitão João Luiz Machado, que até então morava com sua família na Praça da Matriz, onde ele também estava estabelecido com casa comercial, decidiu adquirir uma casa na atual Rua d’ Aparecida, que na época era conhecida por “Beco do Curral da Vó”.
Capitão João Machado tinha fama de caçador de jagunços, de bravo, e com a intensão de morar com a família numa casa confortável, construída de alvenaria, resolveu “desinfestar” a mencionada rua, expulsando as prostitutas, com a consequente eliminação dos bordéis.
Ele conseguiu seu intento, porém foi assassinado em 06 de junho de 1906, quando chegava em casa, no final de uma madrugada , após a realização da ronda noturna diária.
O assassinato foi por motivo de vingança em virtude dele ter efetuado a prisão de um cidadão desconhecido que havia realizado uma serenata para uma namorada.
Com a sua morte, os políticos da época entenderam por bem mudar o nome da rua de Beco do Curral da Vó para Rua Capitão João Machado.
Parece que os donos do poder não concordaram com a nova denominação. Alguns anos após a via pública passou a denominar-se Rua d’Aparecida em homenagem à proprietária de uma casa de prostituição que funcionou naquela via pública e que havia sido expulsa pelo Capitão João Machado.
Posteriormente, foi constituída a chamada zona do meretrício no Alto da Estação, onde as casas de prostituição ficavam segregadas em relação às casas de família. Conforme publicação do jornal hoje extinto, Folha do Povo, fazendo referência ao início do século XX “na zona do meretrício (muito ruidosa e “quente” na época) se detinha a polícia e, também ali o silêncio era exigido. Não obstante, de lá é que surgiam sempre, os reboliços e os “freges” que inquietavam as longas noites guaxupeanas”.
O APOGEU – Contavam os mais antigos que na década de 1920 o preço do café elevou-se de forma considerável, o custo de produção era muito baixo, proporcionando rendimentos consideráveis aos fazendeiros da época. Nas palavras do Dr. Albertinho “com a mania de grandeza da fazendeirada, um bordel era pouco para cada coronel; para tanto usuário, tanto alcouce”.
Os diversos cabarés funcionavam com música ao vivo, com orquestras famosas. Os aliciadores encaminhavam para Guaxupé as mais lindas damas, com seus corpos esculturais.
Em épocas de luxo e de apogeu, a exuberância dos carnavais promovidos pelas profissionais do sexo superava o glamour das damas da sociedade.
Em 1927 Guaxupé era conhecido como o “Rio de Janeiro em Ponto Pequeno”. Infelizmente, em 1929, com a derrocada da Bolsa de Valores de Nova York o preço do café sofreu uma queda considerável levando os fazendeiros à ruína financeira.
Com a crise financeira instaurada na região, o alto meretrício também foi afetado, mas nem por isso o elevado número de casas de tolerância deixou de existir.
Em 1967 ainda existiam 87 casas de prostituição inscritas na Prefeitura Municipal, as chamadas “Casas da Luz Vermelha”. Uma prostituta só poderia atuar nestas casas desde que apresentasse uma ficha de controle de saúde, uma vez que teria que ser submetida a exames médicos a cada 15 dias, no Centro de Saúde Estadual.
Arquivo: Maria Luiza Lemos Brasileiro / Wilson Ferraz