Vista pela janela, a paisagem se mostra com a cara da estação, o inverno do hemisfério sul. As gramíneas estão ressecadas, o ar enfumaçado e as árvores sem cor. Algumas até parecem mortas. Poucos pássaros se aventuram entre os galhos secos, na caça de algum alimento para satisfazer suas necessidades nutricionais.
Como quase sempre acontece, o setembro seco e insalubre se arrasta lentamente, anunciando a proximidade da primavera, que está logo ali. A baixa umidade do ar dificulta a respiração, trazendo as alergias típicas do inverno. Garganta arranhando, nariz coçando e muitos espirros. Rinites e outras “ites” aparecem, inevitavelmente.
Nossos olhos, ardentes devido à poeira e à fumaça das queimadas, perscrutam os céus à procura de algum sinal de chuva, alguma nuvem mais escura, que pode trazer um pouco de alívio para a secura. Mas, por enquanto, nada de significativo.
Destoando de toda essa feiura da paisagem, os ipês amarelos oferecem um espetáculo exuberante com sua floração. De forma espetaculosa, eles anunciam a chegada da estação das flores, a estação da renovação e da esperança, apesar do contraste reforçado por eles.
Assim também acontece com todas as árvores, que se renovam a cada ano na primavera, ainda que tardiamente, transformando a paisagem que se mostra tão descorada e debilitada. No momento, um tom pastel amarronzado se apodera das coisas, tirando-lhes toda a vivacidade.
A natureza, exemplo mais contundente da resiliência da vida na terra, nos presenteia com essa dose monumental de perseverança e sabedoria. Todos os anos, num espaço de alguns poucos dias, podemos ver a grande transformação que enche de alegria e esperança a nossa vida.
Sabemos que brevemente, com o advento da chuva, o milagre acontece. Tudo explode em vida e cor, flores surgindo por todos os lados. Insetos e beija-flores disputando os seus encantos e ajudando na replicação da vida. Pássaros cantando e festejando a nova vida.
Um verdadeiro espetáculo visual, apresentado anualmente pela natureza e muito apreciado por todos nós.
Mas nem tudo são flores na estação das flores. Notícias recentes dão conta de que nossas belas colinas aos poucos estão sendo tomadas por lavouras extensivas, que substituem as mais tradicionais. A soja é a principal delas, visando principalmente o mercado internacional.
Uma triste notícia nas proximidades do Dia da Árvore, 21 de Setembro, é que a flexibilização da fiscalização ambiental, que agora é feita principalmente pelo município, tem facilitado a supressão de espécies centenárias e vegetação presente em áreas de recarga hídrica natural. Este fato pode levar a uma modificação na alimentação dos aquíferos da região, causando um desastre no futuro.
Paradoxalmente, o Dia da Árvore tem a função de encorajar as pessoas a plantar ─ e não arrancar ─ árvores. Assim, esperamos que o ensejo da data e o renascimento promovido pela primavera possam contaminar as autoridades responsáveis pelo ambiente, levando-as a tomar uma atitude contra os abusos.
Afinal, primavera é sinônimo de reconstrução e não de destruição. Tomara que um dia todos os dias sejam dias das árvores. Para sempre.
O Instituto Pensamento Presente convida o distinto leitor para um minuto de reflexão sobre este dia tão importante para a vida no planeta Terra. Afinal, sem árvore não há vida.
Então, o dia que homenageia a árvore é a ocasião perfeita para relembrar um antigo provérbio, atribuído a povos indígenas da América do Norte: “Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for pescado e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro”.
Instituto Pensamento Presente (IPEN)