Em Muzambinho, as mulheres assumem cada vez mais um papel de destaque na cafeicultura e começam a buscar também os benefícios de programas de apoio à agricultura familiar.
SOTERO – Este é o caso da técnica em enfermagem Edna Sotero, “quando vim morar na área rural eu não entendia nada de café, casei com o Paulo e viemos e o amor que eu tenho pelo meu esposo também envolve o meu afeto pelo café”, revela.
Iniciativas em busca do conhecimento levaram Edna a fazer cursos, estudar e procurar entender como é a dinâmica da rotina das lavouras. Foi o que mudou a vida da família Sotero. “Eu amo o café, além da lavoura e da lida no terreiro descobri a magia dos fermentados e a importância de comercializar os microlotes vencedores dos concursos”, disse.
Edna é dessas mulheres simples que tem a sabedoria no olhar, mostram com firmeza onde desejam chegar. “Temos talhões diferentes, nossa propriedade tem uma localização especial. Temos lavouras em Muzambinho, Monte Belo e Cabo Verde, assim podemos participar dos concursos nos três municípios e representar os três no concurso estadual de cafés. Temos conseguido bons resultados e como os concursos mostram aos compradores as bebidas exóticas que temos podemos negociar de uma forma mais tranquila”, conta a cafeicultora que aprendeu a valorizar cada um dos grãos que produz.
“Aqui somos da agricultura familiar, eu, meu marido e os dois filhos trabalhamos em diferentes funções. Mas uma coisa é fundamental, as horas que dedicamos a buscar mais conhecimento. Meus filhos estão estudando e precisam se dedicar com disciplina na busca por informações, assim também como eu e o Paulo. Foi o conhecimento, a ciência que nos possibilitaram as melhorias que temos na propriedade”, revelou.
“Ser disciplinado e constante faz muita diferença, somos pequenos, mas conseguimos um resultado que nunca imaginamos quando começamos nossa história no café”, disse.
SANTA RITA – Em outro bairro de Muzambinho está a Fazenda Santa Rita das Paineiras, onde uma cafeicultora determinada tem outra história contagiante. Maria Julia recebe a reportagem com o chapéu nas mãos “vamos pra lavoura que hoje é dia de ver as plantas novas”, convida.
Ela renovou parte das lavouras que já estava com a produção abaixo do esperado. “Nessa área a lavoura era antiga e ficava difícil o uso do maquinário. Como a mão de obra está cada vez mais escassa e cara, a mecanização é um caminho sem volta”, revela a produtora de café.
“Quando eu comecei com o café, minhas duas filhas eram bem pequenas, agora já estão formadas o que torna meu trabalho mais tranquilo com relação a maternidade. A rotina rural para a mãe dói, pois você tem que fazer o tempo se multiplicar para poder atender a demanda dos filhos, da casa, da lavoura e ainda conseguir tempo para cuidar da gente”, ensina.
“Fui em busca de cursos e aprimorei o que eu sabia, aprender a torrar e a beber o café que produzo, foi uma das mais incríveis experiências. Agora sei qual o melhor ponto da torra para que fique em evidencias as qualidades dos grãos. Sei também que para cada tipo de comprador tem uma torra especifica e isso fora o tempo que dediquei a estudar que me ensinou”.
“A mecanização, o uso da tecnologia e a parceria com empresas e profissionais que agregam e somam ao nosso processo de produzir café com sustentabilidade foi o caminho que encontramos. Investi em energia solar e quero trazer os estudantes da escola rural do bairro, filhos de cafeicultores para dias de aprendizado aqui na propriedade”, conta falando dos planos e projetos.
É preciso passar para as novas gerações de administradores como a vida e a lida no campo é uma opção profissional. “Por muito tempo ensinamos que era preciso deixar a roça pra ganhar a vida, agora a situação inverteu. A sucessão familiar precisa ser incentivada, e preciso mostrar que é bom ser cafeicultor, claro que tem dificuldade, qual profissão não tem. Mas estude, trabalhe, seja disciplinado que o resultado chega”, conta.
(COLABOROU: VALÉRIA VILELA)