“No alto de uma colina, nasceu a escola real”. Este é um pequeno verso contido no Hino da Escola Municipal Professor Pedro de Alcântara Ferreira, em Cabo Verde. Sútil e poética frase, que emoldura a escola para o início de suas homenagens. No último sábado (13/05), foram celebrados os 60 anos de história desta instituição, ocasião na qual pude comparecer e prestigiar. Saí de lá muito contente por tudo que pude ver: Quanto à receptividade e empenho dos colaboradores e estudantes, pela celebração e pelo resgate histórico; quanto aos sentimentos e energias transmitidos por seus educadores, deixando evidente o modo atencioso que têm para com as crianças e a dedicação que possuem por realizarem a nobre profissão de educar; e quanto ao zelo, claramente observado pela conservação do ambiente escolar.
Quando era criança, lembro-me de passar pela rua da escola e ter minha atenção fisgada por ela. Com todo respeito às demais escolas da cidade, em especial ao belo e histórico prédio que abriga a Escola E. Major Leonel, mas existe uma singularidade na Escola Pedro Alcântara, que talvez não consiga sintetizar em palavras. Não há imponência em sua construção, nem cores chamativas. Posso dizer que seria o contrário: Uma edificação singela e discreta, e nem por isso menos formosa e simpática; está inserida “no alto de uma colina” e fica harmoniosa nela. Bastava olhar para esta escola que me vinha um sentimento de ser ambiente acolhedor, alegre, respeitoso, digno dos primeiros anos da jornada educacional das crianças.
A conjuntura deste Jubileu de Diamante da escola foi cenário ideal para o devido resgate histórico feito e para as belas homenagens prestadas às ex-diretoras que, por lá, passaram. A cerimônia foi conduzida por Celso Alberto Lourenço Filho, conhecido como Puka, que é Secretário de Administração e Planejamento do município e que, como o mesmo fez questão de recordar, foi um dos alunos da instituição.
Um breve levantamento histórico feito demonstra como a escola é verdadeira fonte de inspiração, pela resiliência ante as adversidades e por todo seu processo de criação até chegar nos dias atuais, sempre almejando educação de excelência. Uma história que surge na década de 60, com o ex-prefeito Carlos de Souza Filho, que visava a construção de uma escola na cidade, ampliando o acesso à educação. Em 8 de maio de 1963, através do Decreto nº 6.965 do Governo de Minas Gerais, estabeleceu-se a criação do grupo escolar. O início das atividades, no entanto, ocorreu no ano seguinte e sua infraestrutura era ainda precária (pré-moldados de lata), a ponto de ter sido destruída, anos depois, por um temporal que atingiu Cabo Verde (1969). Uma situação estarrecedora para aqueles que estavam envolvidos neste projeto. A escola, por alguns anos, ficou abrigada no prédio conhecido como “Prédio da Dona Filinha”. Anos depois (1975), coube ao ex-prefeito João Batista se Morais, com fundamental afinco e dando a necessária atenção ao tema, resolver esta situação e destinar um novo local e estrutura para a escola. Foi então que, com o objetivo de assistir a população do bairro Chapadão, que a escola foi instalada onde está até hoje, “no alto de uma colina”, com vistas para o restante da cidade.
Na sequência do evento, foi dada a palavra para a atual diretora, Elvira de Lima Silva, com notável emoção por estar vivenciando um momento impar na história da instituição. Elvira destacou o orgulho que ela e todos que atuam na escola possuem pela história da Escola e por todos aqueles que passaram por lá. E, então, nada mais justo que a inauguração de um mural das ex-diretoras (um dos motivos para eu estar nesta celebração, uma vez que minha avó Conceição foi uma das homenageadas). Ao todo, estiveram nesta posição novas mulheres, educadoras, que se dedicaram e se desdobraram para exercer esta função. Foram elas: Maria de Sousa Abreu, Maria Conceição Franco de Carvalho, Marcela Krauss Rezende, Maria Geralda Navarro Vilhena, Maria Célia de Sousa, Hedilene Tranches Costa, Stella Maris Sousa Andrade Côngio, Mary Melo Passos de Paula e Elvira de Lima Silva.
Outro momento marcante da celebração foi a apresentação do hino da escola, elaborado na década de 90, pela ex-diretora Hedilene Tranches, que, emocionada, narrou a construção desta ode. A apresentação foi feita pela professora Rita Cassia Morais Navarro, em voz e violão, juntamente com a ex-aluna e cantora mirim Isadora Silveira Viana Silva. Em seguida, um coral de jovens estudantes também se apresentou, entoando ‘Como é grande o meu amor por você’ de Roberto Carlos.
O patrono da escola, Pedro de Alcântara Ferreira, também foi rememorado. Acredito ser umas das figuras mais ilustres da nossa história local, apesar de não ser cabo-verdense de nascimento. Voltado para a educação, autodidata e poliglota, Pedro de Alcântara Ferreira fundou o “Liceu Caboverdense” em 1911, sendo marco na história da cidade, que se viu em ebulição cultural nas primeiras décadas do século XX, como remonta o “livro da capa verde” (intitulado A Freguesia de Nossa Senhora a Assun-ção de Cabo verde e Sua História) de Adilson de Carvalho. A vida do patrono homenageado foi curta, tendo ele falecido aos 37 anos, em 1914. Mesmo com esta passagem breve, Pedro de Alcântara foi um grande entusiasta da educação. Tê-lo evocado no nome da escola é uma forma de trazer a ela as inspirações necessárias para os jovens cabo-verdenses que lá estudam. Como disse à Secretaria de Educação, Deliane Vilela, é reconfortante ver a situação desta e das demais escolas municipais de Cabo Verde, por saber que nossas crianças estão em boas mãos e com boa infraestrutura.
Viva a Escola Pedro Alcântara! Que venham outros 60 anos pela frente!
E, abaixo, fica o registro do hino da escola, que sintetiza tão bem o sentimento e a mensagem passada por este educandário.
Escola Pedro Alcântara
Nosso tesouro sem par
Te amamos tanto que agora
Queremos de homenagear!
Nasceu de um sonho tão lindo,
Sem preconceito e sem crença
Apara acolher as crianças
Fazendo na comunidade a diferença
No alto de uma colina
Nasceu a escola real
Que trouxe esperança
De ser a escola ideal
Escola querida por todos
Um belo educandário
Que acolhe com muito carinho
Quem nela chegar neste cenário
POR: LUCAS FILIPE TOLEDO |
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