A semana começou de luto para a cultura de Muzambinho, com o falecimento na segunda-feira (19) do sambista Zé da Dinha, como era conhecido José Benedito da Silva. Nascido em 20 de julho de 1952, era filho de Cristovam da Silva e Maria Vitalina de Jesus. Músico muzambinhense que teve uma vida toda construída no bairro Brejo Alegre. Pelo seu destaque no samba tocando soto e tarol, é muito admirado por músicos da cidade. Animou vários carnavais em Muzambinho e região. Além disso, tocou a convite do grupo musical Pop Som em cidades como Nova Resende, Pratápolis e Pouso Alegre.
Em fevereiro deste ano, a Secretaria de Cultura organizou o Sarau em homenagem ao Zé da Dinha. Outra homenagem foi o evento realizado pela Escola Estadual Cesário Coimbra e coordenado pelas Professoras Camila Fernandes, Maria Messias, Cleide Evangelista, Lais Navarro e Denise Martins, relembra Wilson Lima, Secretário de Cultura de Muzambinho. “Nesta gestão temos a alegria de homenagear nossos artistas em vida, lamentamos essa lacuna cultural que o Zé da Dinha deixa”, falou o Secretário.
Para a professora Camila Fernandes, “Zé da Dinha representa uma parte importante da cultura de Muzambinho e fazer nossos estudantes conhecerem seu trabalho e ter a oportunidade como tiveram de conversar com ele foi incrível. Fica nossas saudades e reconhecimento e nosso abraço solidário para os amigos e familiares”. (Valéria Vilela)
Zé da Dinha teve até música
A notícia da morte do José Benedito da Silva, o Zé da Dinha, músico intuitivo, ritmista dos carnavais em Muzambinho- MG, minha terra, chegou nas primeiras horas da manhã.
Há dez anos compus uma canção em homenagem ao Dadinha. A sua vida se cruza com a herança cultural africana, que está no nome da cidade, apagada pelas narrativas históricas, como demonstra Rodolfo Magalhães na sua pesquisa de mestrado.
A música fala também dessa herança quilombola que intuímos, mas não alcançamos.
Era comum ver Zé da Dinha subindo o morro cantando Jorge Ben: ô ô ô Maria Raiô, obá, obá, obá. No carnaval, lá estava ele no tarol, ritmista raro. O timbre da voz tinha ancestralidades e sentimentos que iam de Clementina de Jesus à Luiz Melodia
A canção fala de nossa vida comum. Tem referências ao Brejo Alegre, local de origem da cidade, estrutura quilombola dos afrodescendentes. Caminho do Chico Pedro, a cachoeira dos dias de verão, hoje imprópria para o banho. A política e suas prioridades.
Depois, por sorte, na adolescência, minha família se mudou para perto dali, de onde aprendi a apreciar o movimento do sobe e desce, trabalhadores do dia, boêmios das noites. A inspiração para a música se deu quando, na subida da ladeira, encontro o Zé da Dinha. Trocamos algumas poucas palavras.
Subo para o quarto, à procura do violão. A melodia e a letra vieram sem muitas dificuldades.
“Dadinha a cantar/morro acima/Brejo Alegre/ A força, vem de lá/Chico Pedro, mocidade/ E o samba é filho do candomblé/ Muzamba, terra de carnaval. A cada tempo seus ritos, seus mitos, seus sons/ A cada terra, seus ritos, seus mitos, seus dons/Velhos quilombos, o que restou/ Sem ouro e circo/ livre é o amor.”
A canção esperou dez anos até encontrar guarida no coração de um querido amigo, Evandro Navarro que, junto com Fabrício (Lino Violeiro) transforma a batida do meu violão num arranjo que fez a música crescer. E com um depoimento do Zé da Dinha, com sua fala musical que coube tão bem no arranjo.
No final da vida, Dadinha recebeu merecidas homenagens, o ar boêmio agora tinha ares de sabedoria. Estive em uma delas no Centro Comunitário do Brejo Alegre. Importantes movimentos de revisão histórica.
Obrigado José Benedito da Silva, Zé da Dinha. Livre é o amor. Siga na luz.
Link da música: https://open.spotify.com/intl-pt/track/0rx7D4PkeLGt80DDAAQ8GL?si=hKQ02YUWR1irjElzXX4IUQ&nd=1&dlsi=bd20b7ad4eef4caf
(Pedro Henrique Varoni de Carvalho)