Às vezes, penso como temos costumes tão diferentes, no modo de levar a vida e em como passamos o dia a dia; e que esta variação, muitas vezes, está relacionada à cidade/região que a gente mora. Daquela correria, estresse e agitação dos grandes centros, até à calmaria e simplicidade das pequenas cidades do nosso interior. E, num desses pensamentos, me recordei do primeiro livro que li (não propriamente o primeiro, já que os pequeninos livros infantis e gibis também merecem seu destaque). A obra intitulada “A Árvore que dava Dinheiro”, escrita por Domingos Pellegrini, e digna se compor a saudosa ‘coleção vaga-lume’, trazia uma mensagem bem bacana aos seus leitores.
Num breve resumo, conta a história de uma cidadezinha chamada Felicidade. Lá, havia um senhor muito avarento que, ao falecer, deixa uma ‘herança’ aos conterrâneos: Uma árvore que dava dinheiro. O feito deste homem deixa a cidade polvorosa, mostrando como a ganância praticamente cega as pessoas. Porém, este dinheiro possuía um sútil revés de só existir por lá, e quando tentassem atravessar as divisas da cidade, ele se esfarelava. De todo modo, a agitação seguiu alta com a chegada de turistas e curiosos, o que promoveu outra reação: dos gastos exacerbados e impensados pela cidade, que começa a se ver numa falsa prosperidade. Porém, o infortúnio toma conta do local e as notas param de nascer da árvore. Agora temos Felicidade tendo que enfrentar problemas de endividamento e outras questões ‘sociais’, como a poluição, além de uma população à mercê deste enganoso desenvolvimento. Li um comentário pertinente à obra: “De euforia à decepção, essa história aborda os princípios abstratos que regem nossa economia e seu impacto no cotidiano de uma sociedade”. Vale a pena esta leitura!
A história de Felicidade parece a de muitas cidades por aí. Existem muitos casos, inclusive em nossa região, de cidades que vivem um boom econômico, motivado por algum fator específico: na construção de alguma grande obra (ex.: barragens) ou de interligação para auxiliar na logística (ferrovias e rodovias); na realização de eventos periódicos (carnaval, réveillon, rodeio, etc); ou ainda relativo a um nicho econômico finito (mineração) ou ao menos limitado (monocultura). Em muitos casos, temos situações de cidades que viveram este boom e souberam lidar bem com a situação, servindo como trampolim para, de fato, atingir o desenvolvimento. Há, entretanto, diversos casos de cidades que vivenciam um certo apogeu repentino e insustentável, não permitindo outro desfecho que não seja a ruina.
Se tem algo que aprendi com o primeiro livro que li, não como uma criança, mas com a bagagem de uma graduação e muitas experiências, é quanto às bases sólidas que tudo deve ser feito para atingir o sucesso. Todo projeto, seja na gestão de um município ou de uma empresa, seja ainda na realização um sonho pessoal, sempre exigirá sustentação. E esta sustentação tem, como fontes, a experiência, o conhecimento, a serenidade e a vitalidade. Então, serei entusiasta dos projetos mais arrojados e alvissareiros que me contarem, mas sempre mantendo a cautela necessária para que não precise contar de uma “história parecida que vi, certa vez, na pequena cidade de Felicidade, onde havia um avarento…”.
Por: Lucas Filipe Toledo | lucasfilipetoledo@yahoo.com.br