Nesta semana, celebramos um feriado nacional genuinamente mineiro: 21 de Abril, Dia de Tiradentes. Há 230 anos, Joaquim José da Silva Xavier fora executado pelo crime de “lesa-majestade”, sendo considerado líder da conjuração de caráter separatista, de Minas com o restante do Brasil Colônia. Ao observarmos os envolvidos neste movimento (elite socioeconômica), vemos que Tiradentes era o menos afortunado e, portanto, mais suscetível à tamanha atrocidade cometida pela Coroa Portuguesa. Deste ato, nasce um mártir do movimento.
Muitos movimentos políticos tentam abocanhar dos efeitos da Inconfidência Mineira, bem como da astúcia dos inconfidentes, o que faz valer uma contextualização histórica para que não haja a falácia vinda de partidos ‘liberais’, que trazem Tiradentes como uma espécie de defensor do Estado Mínimo; ou partidos ‘patriotas’, com uma visão da Inconfidência enraizada em valores socioculturais; nem ainda de partidos ‘progressistas’, com uma perspectiva de um movimento popular, igualitário ou abolicionista.
Estamos no século XVIII, em uma colônia portuguesa no continente americano, mais precisamente na recém-criada Capitania de Minas Gerais, cuja capital se chamava Vila Rica (atualmente Ouro Preto). Neste contexto, a principal atividade econômica era a mineração, sobretudo o Ouro. Minas Gerais tornara-se o foco, centro de toda movimentação no Brasil colônia; e Vila Rica vinha se tornando uma das mais importantes cidades do país. Porém, estamos falando de mineração, que possui, sempre, a certeza de sua finitude em determinado momento. Então, já caminhando para o final do século, a atividade aurífera começa a dar sinais de decadência; e, num sistema de colonização exploratória, valia sugar até o último proveito local para, depois, repetir o feito em outra localidade. O escritor uruguaio Eduardo Galeano diz que Ouro Preto apenas mais uma das “veias abertas da América Latina”. Para piorar, e sem entrar em maiores detalhes, temos também uma Coroa desconfiada da colônia, impondo novas e robustas taxações (Capitação e Derrama). Ao longo dos anos, manifestações já aconteciam com o objetivo de contestar esta usurpação, sendo até consideradas precursores da Inconfidência Mineira. Mas esta se distingue das anteriores por ter um explícito objetivo de emancipação. Por fim, um fator externo de grande influência no movimento foram os ideais iluministas, que alteravam o modo de pensar uma sociedade.
É, nesta soma de fatores, que temos um grupo elitizado (militares, poetas, médicos, engenheiros, padres, etc) passam a se reunir visando estruturar uma revolução contra a Coroa. Eram mineiros, assim como nós, mas em outro contexto, não é mesmo?! Isto, nem de longe, visa desmerecer este fato histórico. Pelo contrário, devemos ter muito orgulho de sermos do Estado berço de um movimento que acendeu a chama da indagação e crucial para o movimento emancipacionista, que permitiria a construção de uma nação independente.
Agora, sim, trazendo este momento para nossa realidade, podemos fazer algumas pinceladas com nosso contexto, principalmente em questionar: Quais seriam os valores que ainda devemos manter conosco?
Estamos em um ano eleitoral, cuja escolha presidencial toma a atenção. Mas como é importante pensarmos nos demais que buscam nossos votos para nos representar. Governador, Senador, Deputado Federal e Estadual. Estes, que agirão e poderão afetar nossa rotina com suas escolhas. A escolha assertiva dos nossos votos precisa ser pautada em representatividade, essencialmente em votos que saibam lutar por Minas Gerais, que a faça ter o devido valor econômico, social e cultural. Portanto, não podemos cair no conto de alguns que propagam ser novos ‘Tiradentes’.
Que consigamos reviver um pouco destes inconfidentes que ainda habitam em nós, nos habilitando ao ato de contestar; que tenhamos um Estado próspero, capaz de desenvolver o social e estimular o crescimento econômico. Acima de tudo, que não aceitemos mandos e desmandos ou que nos representem em meras trapalhices.
Somos Grandes. Somos Minas Gerais. Mereceremos o melhor, sempre. LIBERTAS QUAE SERA TAMEN.
POR Lucas Filipe Toledo (lucasfilipetoledo@yahoo.com.br)