Pensar Global, Agir Local

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Certa vez, um diálogo entre dois homens me chamou a atenção. Era domingo de manhã, num belo dia de sol e sem a agitação rotineira das ruas, quando caminhei até a padaria próxima à minha casa, como um hábito dominical. Estes dois senhores estavam sentados numa das mesas do estabelecimento, logo na entrada; um deles com um jornal em suas mãos. Não pude deixar de ouvir a conversa, nem tanto pela curiosidade sobre o assunto, mas pela altura que bradavam. A frase que gerou o despertar da minha atenção foi a seguinte: “Eu não entendo essas manchetes… Não vai ser a gente que vai resolver o problema da Amazônia”. A manchete em questão tratava do aumento do desmatamento na floresta e chamando atenção para os impactos no país. Acredito que não fosse oportuno me intrometer na conversa entre dois estranhos, pra mim, para deixar minha opinião contrária. Assim, apenas segui com meu cafezinho no balcão, comprei uns pães e sai. Mas aquilo me chamou a atenção por perceber que o sentimento de pertencimento se esvai conforme a situação deixa de ser um cenário micro/local e vai passando para um cenário macro/global. Desde então, sempre que vejo uma oportunidade similar, sobretudo com conhecidos, tento trazer este assunto e fazer a reflexão do “pensar global, agir local”.
Antes de falar sobre isto, preciso esclarecer algo: Este caso ocorreu, de fato, mas foi quando ainda morava em São Paulo e trago isso por um motivo: São Paulo é cosmopolitana, e não estou falando apenas de seu tamanho físico, mas por toda sua ebulição social, das diferenças e da mistura gerada. O que acontece lá reverbera no mundo e vice-versa. Poderia, então, pensar que, se um tema como este da Amazônia era refutado em uma das maiores cidades do mundo, quem dirá o que aconteceria se esta conversa narrada fosse em nossas pequenas cidades?
Pois bem. Comecei a ler um pouco mais sobre este comportamento e vi que não está tão relacionado ao tamanho da cidade ou à região em que se localiza. O que influencia, mesmo, é o entendimento de cada um de como determinado tema (o desmatamento da Amazônia, por exemplo) impacta o seu dia a dia. E é aí que mora o perigo e também a nossa possível virada de chave.
Se permitirmos o entendimento de que devemos nos preocupar apenas com o que acontece ao nosso redor, e por sua vez, o entendimento de “redor” se resume aos poucos passos em torno de nossos lares, podemos dar a humanidade por vencida. O processo de ‘dessocialização’ faz com que temas globais, como a guerra na Ucrânia, a emergência dos Povos Yanomamis, os sucessivos golpes de Estado em países africanos ou um estudo apontando um perigo real para novas pandemias, não sejam considerados problemas nossos. Afinal, a bomba que explode em Kharkiv ou o terremoto em Gaziantep não afetam diretamente a nossa rotina, por exemplo.
Isto posto, é fundamental alimentarmos um sentimento de pertencimento global. Falava-se muito em mudanças comportamentais que a pandemia traria: Que a sociedade seria mais altruísta, gentil, coletiva; que cuidaríamos mais da saúde e uns dos outros. Retomada a rotina pós-pandemia, vimos poucos hábitos serem alterados, ainda que eu mantenha uma esperança por dias melhores. Mas não dá para esperarmos uma providência divina ou uma nova pandemia para mudarmos como humanidade.
Uma das formas de mudanças são as individuais e com potencial para incentivar pessoas ao redor. Parece muito idealizado e pouco prático, mas os exemplos já estão no nosso dia a dia. Quando fazemos a separação do lixo reciclável; quando respeitamos as sinalizações de trânsito (e, sobretudo, os pedestres); quando repensamos hábitos de consumo supérfluos. Uma corrente baseada no raciocínio de que “gentileza gera gentileza” e que, se cada um fizer a sua parte e estimular outras pessoas, vamos sim mudar o mundo.
“Pensar global, agir local” (ou, no termo original, think globally, act locally) é um modelo aplicado em muitas áreas, como na economia, nos negócios, na educação e na política, a respeito de práticas sustentáveis e da solidariedade. Mas como trazer este tema para a Gestão Pública?
Nossos representantes políticos devem entender os impactos das ações locais, que é onde está o nosso “mundo” cotidiano. Esta é a outra forma de mudança: A Coletiva. Cada vez mais que gestores fomentarem políticas públicas locais, com propósitos claros e visões amplas, mais conseguiremos perceber uma mudança social, resultando nas chamadas Cidades Conscientes e Interligadas. Exemplos são vários: Das questões urbanísticas às ambientais; das políticas de distribuição de renda ao estímulo empreendedor, ambas voltadas para um ecossistema sustentável. Quem sabe, em alguns anos, não esteja em alguma padaria e ouça, ao observar a conversa entre dois senhores, “Nossa… Que bom que conseguimos, daqui, contribuir para uma situação do outro lado do planeta”.

POR: LUCAS FILIPE TOLEDO |
LUCASFILIPETOLEDO@YAHOO.COM.BR

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