A devastação provocada pelas queimadas nas áreas verdes de Minas está longe de terminar. A previsão é de cada vez mais incêndios florestais, principalmente por conta do tempo seco, muito calor e pouca chuva.
“Trabalhamos com a expectativa de que entre setembro e a segunda quinzena de outubro ocorra o ápice dos incêndios florestais”, afirma o major Welter Chagas, comandante do Batalhão de Emergências Ambientais e resposta a Desastres do Corpo de Bombeiros.
Segundo o militar, uma das principais preocupações é com a ação humana. Quem limpa terrenos fazendo queimadas, solta balões ou joga bituca de cigarro na mata pode provocar ocorrências graves, destruindo unidades de conservação.
“É preciso que a população nos ajude”, reforça o militar, que também falou sobre o trabalho feito pela corporação em Brumadinho, cidade da Grande BH que ainda sofre com os impactos da tragédia do rompimento da barragem.
No último feriado prolongado foram registrados 738 incêndios em apenas quatro dias…
Nós temos vivenciado grandes picos na média histórica. Uma das conclusões, e é um dos fatores que faz a diferença nesse curto período de tempo, pela intensidade e pela rapidez dos incêndios, é que agora existe uma relação grande com essa grave crise hidrológica que estamos enfrentando. Porque quando a umidade relativa do ar está um pouco mais elevada, as ignições são mais difíceis de acontecer. Mas, todos os fatores estando confluentes para a deflagração e expansão, acabam gerando muitos incêndios. É preciso que a população nos ajude, ligando para o 193 quando identificar um foco de incêndio.
Como combater tantos focos?
Estamos fazendo a nossa parte, mas não conseguimos sozinhos, precisamos da ajuda da população. Não adianta a gente agir somente de forma reativa. Nós não temos como estar em todos os lugares. São grandes incêndios, grandes áreas, muito hectares para serem cobertos e, por isso, precisamos de uma parceria com a população, de conscientização para evitar incêndios, principalmente esses de causa humana.
É preciso que a população nos ajude, ligando para o 193 quando identificar um foco de incêndio para que a gente possa combater no seu princípio, porque nossa maior chance é extingui-lo quando ele começa
É possível identificar quando o incêndio é provocado por ação humana?
Nem sempre as ações humanas são criminosas. Existe o costume no país do pequeno agricultor fazer a limpeza do terreno ou renovar o pasto fazendo queimada. Uma ação que não é mais aconselhável. Além disso, um decreto publicado em 29 de junho deste ano proíbe, pelo prazo de 120 dias, a chamada “queima controlada”. Para ser empregada, a queima controlada precisa de autorização prévia do Sistema Nacional do Meio Ambiente. Mas, a conscientização é a nossa maior arma. E não existe só a ação da pessoa que quer renovar o terreno, existem outras situações em que as pessoas estão em momentos de lazer, como acampamentos e esquecem algum tipo de fogueira sem apagar, sem limpar, assim como jogar cigarro em beira de rodovias. Enfim, são muitas situações que mesmo sendo não intencionais vão gerar um grande incêndio. É preciso que a população tenha consciência de que uma simples ação pode se tornar um grande incêndio. Às vezes, um incêndio que vai levar dias ou semanas para ser controlado e, muitas vezes, o combate não é efetivo.
O período mais crítico ainda está por vir?
Ainda não passamos pelo pior momento. Historicamente, entre a segunda quinzena de setembro e a primeira quinzena de outubro os bombeiros costumam enfrentar grandes desafios. Vamos torcer para que esses prognósticos de pouca chuva tenham uma falha e que, mesmo que sejam esparsas, ocorram, porque ajudam significativamente no combate.
Trabalhamos com a expectativa de que até a segunda quinzena de outubro ocorra o ápice dos incêndios florestais em Minas
Em agosto foi encontrado mais um corpo dos desaparecidos após a tragédia em Brumadinho. Mas ainda faltam nove para serem encontrados. Como estão as ações?
O Corpo de Bombeiros continua com as operações em Brumadinho. Essa operação foi dividida em estratégias. Neste momento, estamos na oitava estratégia e acreditamos que vamos conseguir fazer a varredura no restante de área que ainda falta ser percorrida. Foram importados equipamentos da Dinamarca que já foram instalados e estão em fase de testes. Esse equipamento vai fazer um tipo de “peneira” de todos os detritos que ainda não foram analisados, que não foram periciados, para podermos fazer a varredura na área que falta e também de toda a já inspecionada. Nós temos uma grande expectativa com relação a essa estratégia.
(Maria Amélia Ávila – Hoje em Dia)