O poeta e jornalista Ailton Santos lançará seu romance de estreia Ninguém no espelho na Casa da Cultura de Muzambinho(MG), no próximo dia 13 de outubro, a que se seguirão noites de autógrafos em São Paulo, na Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, e no Rio de Janeiro.
Nesse lançamento, previsto para 19 às 21 horas, na Sala Dionísio Azevedo, atores do Grupo Oficina do Ato apresentarão poesias do livro Dançando no labirinto do mesmo autor, em fase final de edição por editora de uma universidade federal.
O autor nasceu no bairro rural Cachoeira do Cambuí e com 9 anos mudou-se para a cidade de Muzambinho, já fascinado pelo mundo fantástico das primeiras histórias infantis,no seu encontro inicial com a poesia, que não interromperia durante os estudos na atual Escola EstadualProfessor Salatiel de Almeida. No início do curso de Direito, em Belo Horizonte, seus primeiros poemas foram selecionados e publicados na Revista da Reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais. E desde que se transferiu para São Paulo, na década de 70, dedica-se à advocacia, ao jornalismo e à literatura, como poeta e prosador. Além de Ninguém no espelho, em breve lançará outro romance, um livro de contos e uma seleção de textos de humor político (Contraponto) que escreveu para o jornal Folha de São Paulo(Graças e desgraças, de Lisboa a Brasília). Dessa trajetória, marcada por profunda identificação com o campo desde a infância, ele extraiu episódios e personagens para sua primeira obra de ficção.
Num ritmo de narrativa de suspense, com reviravoltas surpreendentes, o cativante protagonista deNinguém no Espelho,editado pela Editora Nova Alexandria,“involui” de José para Zé, atéchegar a Zé Ninguém, ao mirar-se no espelho de sua vida e nele desaparecer. O leitor, de mãos dadas com os Zés, vê-se refletido na sua própria condição humana, em que se depara com o outro (ou consigo mesmo?) em suas fomes. Da fome de pão à fome de identidade e de amor,por veredas sem norte e sem fim.
A comovente e corajosa Mariana, tal qual Sherazade das Mil e Uma Noites, conta histórias para enganar a fome das crianças de toda família até que adormeçam com apenas uma caneca d’água e ralas migalhas. Uma das milharesde anônimas Sherazades dos confins de um Brasil dividido e/ou ignorado. Mas quase todas mudas, caladas. É entre uma história e outra que nasce José/Zé/Zé Ninguém, filho do pão, pelas mãos da parteira Ana dos mil partos, no mítico povoado da Curva do Cipó, no norte de Minas Gerais.
Zé Ninguém evoca a memória do leitor ao narrar suas solitárias e desesperadas andanças,da Curva do Cipó à Paulicéia, em que se perde e se procura,numa torturante escuridão, pelos túneis sem luzes de seus conflitos e da ditaduraentão em Franco cerco e asfixia das liberdades dos brasileiros.Até o seu voo para…
TRECHO – “Sábado de sol e silêncio na pensão Estrela.
José acordou com Paulinho da Viola cantando Sinal fechadono teto do quarto.Olá! Como vai?/ Eu vou indo.E você, tudo bem?/ Tudo bem! Eu vou indocorrendo pegar meu lugar no futuro… E você? Corpo imóvel, cabeça colada ao travesseiro, reteve a respiração para descobrir de onde vinha a música. E sem abrir os olhos, como se procurasse o segredo de um cofre, deslizou de leve a mão direita dos cabelos à testa, ao nariz, olhos, lábios, até o queixo. Em seguida, aproximou-a dos lábios e soprou várias vezes para ter certeza de que não estaria sonhando. Não, não estava. Abriu os olhos, a música continuou em algum ponto do teto(na verdade, transmitida por um rádio à pilha de alguém na rua).Num impulso, saltou da cama e ficou de pé diante do espelho, mas… mas… não se viu, não viu nenhuma imagem. Nada além da superfície lisa. Em vão abriu e fechou os olhos uma, duas, três, várias vezes. Nem mesmo o hálito a embaçar o espelho. Soprou duas vezes. Nada. Atônito, agitou os braços em círculos. Nenhum gesto visível. Nenhum sinal. Desespero. Deu seguidos saltos e estacou. Inspirou e soprou com força. Estufou o peito num duelo mudo com o espelho vazio. Improvisou uma dança patética de passos à esquerda e à direita. E conferiu, à procura do próprio corpo, da figura completa. Ou qualquer membro – da cabeça aos pés. O espelho vazio.
Num brusco rodopio José deu as costas para o espelho e amaldiçoou de novo O homem invisível, que desde sua leitura dera vida nova à sua clandestinidade imaginária. “Maldito Griffin! Maldito homem invisível!” E deitou-se de novo, soltando a cabeça no travesseiro como se jogasse um pacote em algum depósito. Virou-se para o canto, cobriu a cabeça com o lençole dormiu.”
FICHA TÉCNICA
TÍTULO: Ninguém no espelho
FORMATO : 14 x 21 – 216 págs.
ISBN :978-85-7492-495-3
Preço: R$ 61,00
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