Sou um forasteiro em Muzambinho. Nasci em BH e fui criado no calorão do Norte de Minas. No começo dos anos de 1990 conheci a cidade e me encantei com esses morros cobertos de cafezais e pelo frio que, convenhamos, já nos colheu com mais intensidade nesta terra. Na cidade sempre me hospedei com os Mazzilli, na avenida central, de onde comecei a conhecer as histórias locais, juntamente com a riqueza da culinária, expressa em escritos, cochichadas entre comadres e entesouradas em cadernos de letra bonita.
Bom garfo que sou, entre um canudinho de doce de leite e uma pamonha, entre um brigadeiro da Doçaria do Moura e muitas esfirras, percebi que havia também uma lacuna. Faltava um lugar, um restaurante, que pudesse satisfazer o paladar local, que se sofisticava e, ao mesmo tempo, garantir o sabor caseiro em pratos que o público conhecia bem.
Muzambinho também sofria, para o bem e para o mal, a influência do mundo digitalizado e, cada vez, mais global. Paralelamente aos sabores da terra, o público demandava mais diversificação, mais variedade, queria experimentar novidades e conhecer novos modos de tratar ingrediente e produtos, dando a eles outros significados, empregando técnicas consagradas, para tirar deles o seu melhor. Foi, então que surgiu, no início dos anos dois mil, o Cesário’s!
Desde o início, o restaurante apresentava um cardápio de variedade surpreendente e um tratamento culinário que privilegiava a honestidade dos pratos e das porções. O Toninho ameaçava ter um enfarte por noite, atento a tudo que se passava entre o salão e a cozinha. Essa atenção e preocupação com os detalhes fizeram do Cesário’s uma referência regional. Gosto de comer lá por causa da informalidade do ambiente. Gosto do atendimento amigável do pessoal da copa e da cozinha, gosto, enfim, de me surpreender e encontrar ao lado da mineraríssima fava-verde, os mafufos, enroladinhos de folha de repolho, recheados de carne e arroz, típicos da culinária árabe. A variedade, o inusitado, a excelência na execução dos pratos e o cuidado com cada um dos fregueses fazem, a meu ver, o conjunto da obra, valer muito a pena. Vida longa ao Cesário’s!
* JORNALISTA – MARCELO GUEDES