O sagrado cafezinho de todos os dias vai ficar mais caro. E a culpa por isso vem sendo atribuída a adversidades, como seca e geadas, que atingem a cafeicultura do país – a mais importante do mundo – desde o fim de 2020. A estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) de que o preço do produto deverá chegar de 35% a 40% mais alto à mesa do consumidor até o fim de setembro tem a anuência do Centro do Comércio de Café do Estado de Minas Gerais (CCCMG), na palavra de seu vice-presidente, Ricardo Schneider: “Faz sentido esse aumento de 40%. A geada fez o café saltar pouco mais de 20%, juntando com as perdas do ano passado, pelas secas, justifica esse aumento”.
Esse é um movimento natural, segundo Schneider. Ele explica que o café tem até mais volatilidade do que muitas commodities, como o arroz, por exemplo. Seu consumo – do café – tem muito a ver com o dia a dia do brasileiro, as indústrias optam por estratégias de não mexer muito no preço.
“O consumidor sabe o preço do café. Essas mudanças são traumáticas. O café tem um componente tradicional muito forte, a indústria adota uma estratégia correta de tentar minimizar essas variações, mas chega a um ponto em que a indústria começa a recalcular suas margens e tem que revê-las e todo esse represamento anterior tem que ser repassado ao consumidor”, pondera.
“Tradicionalmente, o mercado de café trabalha muito com essas especulações, o preço de hoje está sendo colocado no preço do mercado a futuro, pensando nos estoques, na produção e no consumo”, detalha a analista de Agronegócios da Gerência Técnica do Sistema Faemg, Ana Carolina Gomes. “O impacto sofrido tanto na seca quanto na geada é muito em razão de as principais regiões produtoras do mundo terem sido afetadas, o Sul de Minas e o Cerrado Mineiro. Se Minas fosse um país, seria o maior produtor de café mundo, produz mais do que a Colômbia, segundo maior em nível mundial”, avalia a especialista.
As exportações também são apontadas pela Abic, ao lado das intempéries, como motivadoras da alta do preço do café. Schneider explica que a alta do dólar impacta sobre isso, já que o real fica mais fraco, beneficiando as exportações. Minas, como exportador, como maior produtor do mundo, tem compromissos firmados com compradores externos.
“No próximo ano, será menor a oferta do produto, isso dá uma enxugada na proporção de café no mercado interno. Não há risco de falta, o que pode ocorrer é menor oferta e maior disputa”, diz a especialista da Faemg, lembrando que isso pressiona os preços.
A saca do café arábica, fruto de 99% da produção mineira – severamente afetada pelas geadas –, custa hoje em torno de R$ 1 mil, quase 100% mais do que em 2020. Já o café conilon, mais consumido no país, sai a R$ 600 a saca. Ana Carolina Gomes lembra que na composição do café na indústria há uma mistura que acaba refletindo no aumento de custos do conilon, também conhecido como café robusta.
Além disso
Minas Gerais, São Paulo e Paraná foram os estados em que a cafeicultura registrou mais prejuízos causados pelas geadas neste ano. Em algumas localidades, principalmente do sul mineiro, lavouras foram inteiramente destruídas. Por esse motivo, o Conselho Monetário Nacional (CMN) divulgou a reserva de R$ 1,32 bilhão para linhas especiais de crédito do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) para socorro a produtores prejudicados.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) informou que levantamentos preliminares indicam que só as geadas atingiram cerca de 200 mil hectares de cafezais (cada hectare corresponde, aproximadamente, a um campo de futebol oficial).
Em boletim de acompanhamento do setor que divulgou na semana passada, a Conab aponta que, “nos próximos meses de 2021, o retorno das chuvas em volumes satisfatórios torna-se fundamental para amenizar os danos já causados pela seca e pelas geadas e para sustentar a florada da safra a ser colhida em 2022”.
(Hoje em Dia)