A já considerada “eleição mais importante da história” do nosso país teve seu primeiro turno realizado no último domingo, sob olhares e atenção de todos. Fica, aqui, um compêndio de tudo que aconteceu nesta primeira etapa das Eleições 2022 e o que devemos esperar para o segundo turno.
ELEIÇÃO PRESIDENCIAL: Centro das atenções há muitos meses, o pleito para a escolha do próximo Presidente do Brasil mostrou a polarização vigente no país e trouxe uma série de apontamentos e considerações. O primeiro registro fica quanto ao número de eleitores aptos a votar, de 156,4 milhões, sendo 9,1 milhões a mais que na eleição de 2018. As abstenções ficaram em 20,95% do eleitorado, número expressivo mas condizente com a tendência de alta deste número, crescente desde a eleição geral de 2006. Entretanto, os votos nulos/em branco ficaram em 4,41% do total, praticamente metade da porcentagem registrada há quatro anos (8,79%). Se a abstenção reflete um desinteresse popular pela política ou desencontro e informação por parte de órgãos oficiais (sobretudo, em relação aos falecimentos), os votos em branco e nulos terem reduzido demonstram que a polarização Lula x Bolsonaro estimulou o voto válido. Quanto ao resultado: Nem Lula (PT) nem Bolsonaro (PL) conseguiu conquistar maioria dos votos (48,43% e 43,2%, respectivamente) e levaram a decisão para o segundo turno. Juntos, somaram mais de 91% dos votos válidos, apequenando os demais candidatos e naufragando a tentativa do discurso de uma ‘terceira via’ neste ano.
LULA: O ex-presidente vinha confiante e com expectativas de ser eleito em primeiro turno, conforme apontavam as pesquisas mais recentes. No domingo à noite, num discurso ainda esperançoso, disse que este segundo turno se tratava de uma “prorrogação do jogo”. Fato é que, mesmo sem a vitória em primeiro turno, Lula e seu partido tem o que comemorar, já que foi a segunda maior porcentagem que conseguiram emplacar em primeiro turno (48,43% este ano e apenas em 2006) e o maior número de votos que qualquer candidato já havia recebido em primeiro turno na corrida presidencial (57,2 milhões).
BOLSONARO: O atual presidente, nesta mesma linha de raciocínio, deve considerar suas conquistas, posto que recebeu o segundo maior número de votos dentre todos os pleitos presidenciais em primeiro turno (51 milhões). Não apenas isto, mas Bolsonaro viu este número crescer, em relação ao pleito de 2018 (49,2 milhões). Outro ponto é próprio fato de ter segurado a disputa para segundo turno, dando tempo para ampliar negociações e atrair votos. Porém, em se tratando de porcentagem, seu primeiro turno de 2018 foi melhor (46,03% em 2018 e 43,2% agora).
SIMONE TEBET: Dois objetivos secundários estavam colocados à emedebista: Receber a maior porcentagem de votos do seu partido em corridas presidenciais (4,73% de Ulysses Guimarães, em 1989) e ficar em terceiro lugar nas urnas. Não conseguiu superar Ulysses, conquistando 4,16% dos votos válidos, mas se firmou em terceiro lugar, fortalecendo seu nome na política e tornando seu apoio valoroso e disputado. Ainda vamos ouvir falar muito de Simone Tebet.
CIRO GOMES: Este pode considerar como sua pior experiência política. Seu discurso de ataque para todos os lados, numa tentativa de atrair o antipetismo e o antibolsonarismo, não agradou a quase ninguém, obtendo apenas 3,04% dos votos (distante dos 12,47% que recebeu em 2018). Para muitos, sai como o maior derrotado.
ELEIÇÃO DE GOVERNADORES: 14 Estados e o Distrito Federal decidiram seus próximos governadores, já em primeiro turno, sendo 12 destes reeleitos. Da mais folgada, de Helder Barbalho (MDB), do Pará, com mais de 70% dos votos, à mais apertada, de Ibaneis (MDB) do Distrito Federal, seguem os estados que já decidiram em primeiro turno: PA, PR, MT, RJ, RN, TO, PI, AC, RR, MG, CE, AP, GO, MA e DF. Os demais, decidirão dia 30/10, junto com a escolha para presidente.
GOVERNO DE MINAS GERAIS: A reeleição de Romeu Zema (NOVO) já era apontada como certa pelas pesquisas. Especulava-se quanto à força de Lula em seu apoio à Kalil (PSD), se seria capaz de contornar estas intenções de voto, ao menos segurando para o segundo turno. Mas não adiantou e, com 56,18% dos votos, Zema foi reeleito, frente aos 35,08% de Kalil e 7,23% de Carlos Viana.
ROMEU ZEMA: A figurinha mais valiosa do álbum do Partido Novo, sem dúvidas, é o governador mineiro. Em nível nacional, o partido não conseguiu emplacar outro nome (em 2018 e 2022), nem para fazer cócegas, seja na corrida presidencial, governo de estados ou ainda para o senado federal. Zema, se mostra forte no segundo maior colégio eleitoral e, certamente, terá seu nome cotado em 2026 (Presidente ou Senador) e ainda tentará formar o próximo governador mineiro.
SENADO FEDERAL: Com o resultado das urnas, a composição do Senado mudou, mas nada significativo, até porque sua renovação é parcial (1/3, neste pleito). Destaque para o PL, que saiu de 5 para 13 senadores, o UNIÃO, que saiu de 7 para 12 senadores, e o PT, que saiu de 5 para 9 senadores. O MDB, por sua vez, tem o destaque negativo, de 13 passando para 10 senadores e deixando de ser a maior bancada partidária desde 1986. Ao todo, 15 siglas terão representantes no Senado.
CLEITINHO: Minas elegeu Cleitinho (PSC) como Senador, derrotando Alexandre Silveira (PSD), candidato de Lula, e Marcelo Aro (PP), candidato de Zema. Cleitinho, por sua vez, se apresentou como candidato de Bolsonaro. Saiu de Deputado Estadual eleito em 2018 para a disputa ao Senado e logrou êxito. Jovem (perto dos seus colegas), acelerado e polêmico. Vamos acompanhar seu desempenho. Cleitinho se junta à Rodrigo Pacheco (PSD) e Carlos Viana (PL) na representação mineira no Senado.
CÂMARA DOS DEPUTADOS: Com uma renovação menos expressiva (39% das vagas ficaram para novos deputados), mas que poderia ser pior, posto que mais de 85% dos deputados atuais buscavam reeleição, um dos destaques foi a redução de partidos na Câmara, com 23 siglas presentes, 7 a menos que em 2018. É reflexo das mudanças nas regras eleitorais, com o fim das coligações em votos proporcionais e as cláusulas de desempenho. A tendência é que este número vá ficando ainda mais enxuto. Inclusive, partidos que não cumprirem o desempenho necessário, ficando fora do fundo eleitoral e horário de propaganda eleitoral, certamente deverão repensar sua existência. Quanto às bancadas: O PL, de Bolsonaro, dispara como a maior bancada (de 76 para 99), ao passo em que bancadas como da Federação PSDB/CIDADANIA (de 29 para 18), do PSB (de 24 para 14) e do PP (de 58 para 47) veem derreter sua representatividade. E a Federação PT/PV/PCdoB mostra recuperação em relação à 2018 (de 68 para 80). Numa segmentação ideológica (se é que existe), serão 274 parlamentares de direita, 109 de centro e 130 de esquerda.
DEPUTADOS FEDERAIS POR MINAS: Vale os destaques, dentre os 53 eleitos por Minas e o desempenho dos partidos. Nikolas Ferreira (PL), o deputado mais votado do Brasil em 2022 e da história do estado (1.492.047 votos). Célia Xakriabá (PSOL), a primeira mulher indígena por MG. Duda Salabert (PDT), a primeira mulher trans por MG. Lafayette Andrada (Republicanos) faz com que o nome de sua família siga na política nacional, dinastia que já perdura mais de 200 anos Crescimento das bancadas mineiras do PL e PT (partidos dos presidenciáveis), bem como afunilamento de partidos tradicionais, como MDB, PSDB e PP, e o sumiço de outros, como NOVO e PSB. Ao todo, estão espalhados por 16 partidos.
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA: Na ALMG, a renovação foi menor, de 32,46%, sendo 25 novos deputados dentre as 77 vagas; o menor número dos últimos 20 anos. As maiores bancadas são as do PT (12), PSD (9) e PL (9). E outro fato muito importante é a da presença feminina histórica, com 15 deputadas estaduais eleitas. Ainda minoria, mas mostra o avanço da representatividade das mulheres na política.
DEPUTADOS ‘REGIONAIS’: Apesar de candidatos atuantes em nossas cidades, podemos dizer que só elegemos um candidato propriamente da nossa região, que é Emidinho Madeira (PL) para Deputado Federal, que é de Nova Resende. Para Federal, os demais do Sul de Minas foram: Odair Cunha (PT), de Boa Esperança; Dimas Fabiano (PP), de Varginha; Rafael Simões (UNIÃO), de Pouso Alegre. E, para Estadual, foram eleitos: Antônio Carlos Arantes (PL), de Jacuí; Cássio Soares (PSD), de Passos; Ulysses Gomes (PT), de Itajubá; Prof. Cleiton (PV), de Varginha; Dr. Paulo (PATRIOTA), de Pouso Alegre; Duarte Behir (PSD), de Cristais; Luizinho (PT), de Alfenas; Rodrigo Lopes (UNIÃO), de Andradas; e Dr. Maurício (NOVO), de Santa Rita de Caldas. Há outros, nascidos na região, mas com domicílio eleitoral fora do sul de Minas. Se bandeiras e ideologias são importantes, representatividade local também é. O debate de uma reforma eleitoral, que altere o sistema de votação para “distrital misto” talvez faça sentido para nós.
E COMO VOTAMOS PARA PRESIDENTE: As votações, aqui na região foram equilibradas, assim como no restante do país. Dentre as 21 cidades de abrangência da Folha Regional, Lula venceu em 7, com maior vantagem em Botelhos (56,67%) e Cabo Verde (53,02%), enquanto Bolsonaro venceu em 14, com maior vantagem em Jacuí (63,67%) e Bom Jesus da Penha (54,57%).
O QUE DEVEMOS ESPERAR DO SEGUNDO TURNO: Os próximos dias seguirão no clima da polarização. A margem para a conquista de votos é muito pequena, considerando os mais de 91% que já votaram em um dos dois candidatos. Virar voto de um pro outro é algo quase inimaginável. E os principais colégios eleitorais (SP, MG e RJ) serão os grandes palcos dessa disputa.
E que a Democracia sempre prevaleça!
POR: LUCAS FILIPE TOLEDO |
LUCASFILIPETOLEDO@YAHOO.COM.BR