Dia de Nossa Senhora: Romarias, badalos de sinos, missas, orações e… foguetes. Prá que os foguetes? Com toda a certeza, o santo protetor dos animais, S. Francisco, cujo dia se comemora um pouco antes, não fica nada feliz. Também eu não fico feliz. Detesto foguetes. Preferia a comemoração de antanho quando os homens jogavam os chapéus para o alto e as mulheres em coro saudavam a virgem: “Viva Nossa Senhora Aparecida, Viva! E as palmas ecoavam pela cidade.
Lanço aqui, neste periódico, a campanha pela abolição do foguetório. Prá que fazer os coitadinhos dos animais sofrerem? Eu compartilho do sofrimento –odeio foguetes.
Em algumas campanhas políticas vitoriosas, pedia aos correligionários: nada de foguetes. Embalde, quase sempre o apelo caía no vazio.
Quem não conhece gente estropiada pelos fogos? É perigoso e é insalubre. Aqueles fogos comemorativos luminosos, lançados nos fins-de-ano, vá lá. Eles são emitidos por gente experimentada e o seu barulho é rouquenho e não estridente.
Tenho verdadeira ojeriza de barulho. Na série “Atypical” o personagem principal, que é autista, usa um aparelho tapa-ouvidos para que os barulhos externos não perturbem a sua concentração. Sou mais ou menos assim. O ruído excessivo faz-me perder o foco e a linha de raciocínio.
Por ocasião dos anos de minha mulher, dei-lhe um fone de ouvido para que ela assistisse em paz e na altura que lhe aprouvesse os programas de televisão. Ficou ofendida, julgando que eu militava em causa própria. Nunca usou o aparelho.
Quando fui vereador, debatemos muito sobre o problema dos ruídos oriundos dos carros de som. Chegamos a fazer uma audiência pública, da qual participaram os propagandistas. Depois de muita conversa, conseguimos a diminuição da intensidade dos sons emanados dos carros.
Mas, ultimamente, voltaram eles com tudo, tentando recuperar o “tempo perdido”.
Não ia à festa de barraquinhas – quando estas existiam – por causa do barulho estridente que saía das caixas acústicas, com decibéis muito acima dos tolerados por mim.
A bíblia nos recomenda fugirmos daqueles que falam alto. Sigo o preceito por duas razões. Primeira, pelo bíblico motivo de me desvencilhar daqueles que se julgam os donos da verdade; a segunda, pela minha sensibilidade auditiva.
Por falar de indesejáveis, todos devem conhecer aqueles que são surdos por conveniência. Há um específico, que sofre da presbiacusia. Vamos no popular, é surdo que nem uma porta. Usa um aparelho de surdez, mas este está sempre desligado. Acho que é de propósito. Entabula conversação comigo. Tento, aqui ou ali, fazer alguma contestação, sobretudo porque tem um pensamento político diametralmente oposto ao meu. Ao retrucar alguma coisa, no entanto, coloca a mão em concha atrás da orelha. Em vão, grito. Assim mesmo, ele continua com o seu discurso absolutamente inadequado, defendendo o negacionismo e o preconceito em altos brados, como se o surdo fosse eu. Tento polidamente me livrar. É inútil. Pega-me pelo braço e deita falação e eu tenho que aguentar tudo aquilo. Fazer o quê?
Moro na rua Sete de Setembro, que se transformou numa verdadeira pista de corridas. No nosso horário de rush é quase intolerável assistir TV na minha sala. Carros com escapamentos abertos em altíssima velocidade, tiram o meu sossego. E as motos? Estas parecem querer, de propósito, me azucrinar. Não resisto, solto um palavrão, tentando desabafar.
Vi, dia desses, que em Nova Iorque – um dos lugares mais barulhentos do mundo – foi instalada num local destacado uma enorme estátua de uma mulher com o dedo indicador nos lábios, pedindo silêncio. A significação, para mim, é que, além do apelo pela redução dos ruídos, a imagem convidava os nova-iorquinos à introspecção e à meditação. Aonde vai nos levar esta correria desenfreada atrás de dinheiro e de prazeres fugazes? É preciso parar um pouco. É preciso meditar e refletir sobre o que, realmente vale a pena nesta curta passagem por este mundo.
Não tendo mais a quem recorrer pela diminuição do barulho, rogo(ó) com todos os rogos(ô), ao Santo das Causas Perdidas, São Judas Tadeu e ao Santo Expedito Patrono das causas Justas e Urgentes. Sem nenhum desmerecimento ao segundo – Deus me livre – vou de São Judas Tadeu, que era o santo devocional de minha mãe e foi num 28 de outubro, vários anos atrás, que parei de fumar. A súplica que entoo é pela busca do silêncio. Do contrário, “Vou me embora pra Pásargada.”
*Na década de 1970, dentre outras besteiras, eliminaram o acento diferencial de timbre. Mais recentemente, depois de todas as dificuldades para aprender e ensinar o uso do hífen, entre novas bobagens, descaracterizaram-no como o aprendemos. Não pretendo, jamais, grafar a palavra “superomem” desta forma, Será que este povo não tem mais nada prá fazer?
Nilson Bortoloti (Professor aposentado, ex-prefeito e ex-vereador em Muzambinho)