O Instituto Inhotim, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, sediou nesta sexta-feira, 7 de junho, o segundo dia do N.INHO 2024, evento que reúne debates, grupos de trabalho e atividades culturais entre promotores de Justiça, pesquisadores, gestores públicos e ativistas ambientais de todo o Brasil. O evento é organizado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente (Caoma) e conta com parceria da Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa).
Abrindo os debates, o Instituto Inhotim apresentou o trabalho Aves do Inhotim, organizado pelos pesquisadores Raiane Amorim, Sabrina Carmo e Vinícius Parreiras. A pesquisa resultou em um inventário impresso que indexou 98 espécies de pássaros urbanos e silvestres frequentadores do museu a céu aberto de Brumadinho. Cada página do catálogo traz fotografia em cores, nomenclaturas populares e científicas e características morfológicas e comportamentais de cada espécie.
A convivência com a diversidade de aves no local levou o instituto a elaborar um plano para evitar a morte de pássaros por choque com janelas de vidro. As perdas de animais é comum em estruturas de arquitetura minimalista que tem o vidro como elemento estético predominante. Com o envolvimento de artistas, curadores e biólogos, o museu adaptou as edificações com persianas, adesivos e películas que diminuem ou anulam os reflexos, facilitando a percepção dos pássaros e diminuindo as batidas. O trabalho contou com apoio do MPMG e resultou numa segunda publicação que aborda as táticas de redução de choques de aves com edifícios envidraçados. As mortes deste tipo impactam a cadeia alimentar dos diversos biomas e ameaçam a dispersão de sementes na natureza, gerando preocupação de especialistas.
O mesmo tema foi assunto da fala do professor Augusto José Piratelli, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). O pesquisador apresentou resultados do grupo que estuda formas de reduzir os impactos e as mortes de animais. Após estudar carcaças de aves que se chocaram e imagens de colisões, estudantes se debruçaram sobre a literatura internacional que trata do tema. Inicialmente, tentou-se a instalação de adesivos em formatos de aves de rapina, o que não surtiu pleno resultado. “Nós descobrimos que o ideal são adesivos em formatos de bolinhas. Adesivamos todo o campus da universidade e em um ano não houve mais colisões”, contou. A estratégia vem sendo repetida em diversos edifícios cujos moradores se sensibilizaram pelo assunto, gerando até um mercado de adesivos próprios para chamar a atenção de pássaros.
A diretora-geral da organização Freeland, Juliana Machado Ferreira, abriu o debate seguinte abordando estratégias de enfrentamento do comércio ilegal de animais silvestres. De acordo com a bióloga e ativista, autoridades públicas precisam de cooperação internacional e identificar crimes associados ao tráfico, como lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e contrabando. Para isso, é preciso a formação de profissionais para a investigação. Segundo Juliana, o comércio de espécies silvestres é uma prática que pode afetar tanto os biomas locais, pela introdução de espécies sem predador, quanto a saúde humana, pela disseminação de vírus entre pessoas. “A carne de tatu ainda é consumida no Brasil e por causa desse hábito ainda temos casos de hanseníase transmitida pelos animais para humanos”, explicou.
O evento teve como ações culturais a apresentação do curta-metragem Cativeiro, produzido pela organização belo-horizontina Arbo com recursos da plataforma Semente, ligada ao Caoma e do livro-jogo Empatinha, da escritora Samylla Mól. O filme é assistido em óculos de realidade virtual e apresenta a história de Migalha, um pássaro silvestre capturado por caçadores e vendido ilegalmente para uma família urbana. Já o Empatinha oferece uma caixa com três histórias infantojuvenis sobre pássaros silvestres criados em gaiolas e um jogo de tabuleiro complementar.
Enfrentamento
O Coordenador do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente (Caoma), Carlos Eduardo Ferreira, ressaltou como a complexidade de enfrentamento do tema exige diálogo entre os ministérios públicos brasileiros. “Este é um tema difícil que demanda estratégias em conjunto, então nos reunimos com promotores do Brasil. Esperamos que todo o Brasil possa atuar de uma maneira bem rigorosa para combater esse tráfico que movimenta em recursos mais que milhões de reais anualmente”, comentou.
A coordenadora da Coordenadoria Estadual de Defesa dos Animais (Ceda), Luciana Imaculada de Paula, avaliou o encontro sob o ponto de vista da necessidade de valorização da causa. “Tentamos demonstrar a importância dos animais da fauna silvestre brasileira tanto pelos serviços ambientais que eles exercem na conservação da biodiversidade, como também na importância de cada animal ter o direito constitucional de não ser submetido a práticas cruéis”, disse.
Confira fotos do evento
Fotos Paulo Morais/MPMG
Fonte: Ministério Publico MG