SENADO FECHA COM O ‘TERRIVELMENTE EVANGÉLICO’

Share on facebook
Facebook
Share on whatsapp
WhatsApp
Share on email
Email
Share on print
IMPRIMIR
Share on facebook
Share on whatsapp
Share on email
Share on print

 

Uma novela arrastada, que causou repercussões negativas no funcionamento da mais alta instância do judiciário brasileiro. Desde julho passado o conjunto do STF – Supremo Tribunal Federal – vem atuando desfalcado em decorrência da aposentadoria compulsória do Ministro Marco Aurélio Farias de Mello, que ali trabalhou desde 1990, época em que foi indicado pelo seu primo e Presidente da República, Fernando Collor de Mello. Sabe-se que a nossa Suprema Corte de Justiça é formada por 11 ministros, conforme estabelece o Artigo 101 da Constituição Federal (CF). A função institucional do STF é a de guardião da CF, devendo decidir situações que envolvam lesão ou ameaça à mesma. Eles tomam decisões em reuniões plenárias ou nas duas Turmas compostas de 5 ministros cada. Justamente para que não aconteçam empates nas decisões é que o Pleno e as Turmas funcionam com números ímpares de ministros. Entretanto, podem ocorrer casos de ausência ou falta de ministros, inclusive por razão de que eles afirmem suspeição e deem-se por impedidos. Decorrente disso, tendo empates, estabelece o Art. 146 do Regimento Interno da Corte o princípio “in dubio pro reo”, que vai favorecer o réu no caso de “habeas corpus”, ou à sociedade em outros casos.
Era esse o transtorno que vinha acontecendo no País desde então. O Presidente da República protocolou a indicação do nome do substituto de Marco Aurélio Melo ainda em julho, junto ao Senado da República, que é a Câmara Alta do Congresso Nacional, incumbida de receber o nome e submetê-lo a uma sabatina para averiguação do notório saber do indicado e de suas posições ante à C.F. No Senado, a tramitação se dá pela passagem do processo pela CCJ – Comissão de Constituição e Justiça – hoje presidida pelo Senador Davi Alcolumbre (DEM/AP). Pois bem, Alcolumbre é um aliado do Presidente Bolsonaro (PL/RJ), aliás foi Presidente do Senado no primeiro biênio desta Legislatura com o apoio e bênção de Bolsonaro. Todavia, Alcolumbre postergava a reunião da sabatina, porque, segundo correu pela imprensa, seu apadrinhado seria o PGR – Procurador Geral da República – Dr. Augusto Aras, que ocupa este cargo também por escolha do Presidente Bolsonaro. Foi assim que a situação se arrastou meses a fio, com prejuízos e sobrecarga no funcionamento do STF.
O que mais se especulou foi a acomodação do Presidente Bolsonaro, que tinha o poder da indicação e influência sobre parcela do Senado. Não foi a Oposição de Esquerda que criou obstáculos, mas Alcolumbre, um aliado do Palácio do Planalto, certamente junto com outros interessados e outros interesses. Por que, também, o Senador Rodrigo Pacheco (PSD/MG), Presidente da instituição não tomou medidas de pressão contra a CCJ? Enquanto isso, a Bancada Evangélica do Senado e da Câmara exercia seus mecanismos de pressão, porque, pela primeira vez, esse segmento religioso estaria obtendo uma vaga no STF, onde poderia agir e exteriorizar-se sobre uma pauta de costumes.
Finalmente, vencidos os parlamentares contendores nesta queda de braço interna do Governo, foi sabatinado no Senado, nesta 4ª feira, 1º, o concorrente indicado pelo Presidente Jair Bolsonaro à vaga originária da aposentadoria do Ministro Marco Aurélio. Dr. ANDRÉ LUIZ DE ALMEIDA MENDONÇA foi o personagem do dia. Ele é natural de Santos-SP, 48 anos, advogado concursado da União desde o ano 2.000. Neste Governo, ocupou durante um ano o cargo de Ministro da Justiça e Segurança Pública, no lugar do ex-Juiz Federal, Sérgio Moro e, atualmente, era o Advogado-Geral da União. Na CCJ do Senado foi sabatinado durante oito horas, destacando-se perguntas de como se comportará diante de influências de quem o indicou, sua questão religiosa e o Estado Laico, democracia e casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em muitas destas questões ele reafirmou sua posição religiosa, mas, dizendo que, no STF, sua obediência será a este livro – ocasiões em que exibiu seu exemplar da Constituição Federal. Ele entende que “delação não é elemento de prova” e insinuou que condenação somente depois do trânsito em julgado, pelo que deu a entender ser contrário à prisão após condenação em 2ª Instância. Seu nome foi aprovado na CCJ por 18 votos contra 9, indo a matéria direto para o Plenário do Senado, ainda no mesmo dia. Em Plenário sua indicação a Ministro do STF foi sacramentada por 47 votos a 32, dez votos a menos que o anteriormente indicado de Bolsonaro, Kássio Nunes Marques, que ficou com a vaga da aposentadoria do Ministro Celso de Melo.
ANDRÉ MENDONÇA é o seu nome simplificado. É formado em Direito pela Instituição Toledo de Ensino, atual Centro Universitário de Bauru-SP e em Teologia pela FTSA – Faculdade Teológica Sul Americana – de Londrina-PR. Cursou doutorado na Universidade de Salamanca, Espanha. É Pastor da Igreja Presbiteriana. Demonstra ser pessoa afável e de sólidas convicções pessoais, religiosas e jurídicas.
O Presidente do STF, Luiz Fux, cogita a marcação da posse do novo ministro para meados deste mês. Quem se deu mal nesta história toda foi o Juiz da Lava Jato, Sérgio Moro. Ofereceu o sangue de um Líder para ficar bem com as elites. Trocou seu cargo de Juiz Federal para compor com um Governo desatinado. Ficou sem a profissão e sem o cargo de Ministro.
Democracia é isso. Não há que questionarmos a orientação religiosa do novo Ministro. Nem sua origem no governo bolsonarista. As regras do jogo são estas e não cabe mimimi de quem discorda da escolha. Interessa aos brasileiros que Sua Excelência exerça seu cargo com senso de justiça e na intransigente defesa da Democracia. Oxalá que o ‘terrivelmente evangélico’ com que o Presidente anunciou esta escolha, desde o começo do seu mandato, seja como uma tesoura para aparar a língua de uns pastores terrivelmente radicais, tipo os Malafaias da vida. Para estes, que vivem a se insubordinar contra o STF, ou a atirar leviandades contra outras autoridades, que lhe são adversários políticos, quem sabe o novo Ministro-Pastor lhes reavive as palavras do Apóstolo Paulo na Carta aos Romanos, 13:1-3: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal…”.

Marco Regis é médico, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG
(1995/98; 1999/2003) *marco.regis@hotmail.com*

Notícias Recentes