Muzambinho, 9 de outubro de 2024

Vacinação de industriários em MG exige planejamento e mais doses

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Minas começou a enviar doses para esse grupo no início do mês, mas doses ainda não são suficientes. BH espera receber mais vacinas para fazer convocação

Paralelamente à vacinação por faixa etária, os municípios enfrentam hoje o desafio de planejar a imunização contra a Covid dos trabalhadores da indústria, conforme orientação do Plano Nacional de Imunizações (PNI). As doses para esse grupo começaram a ser entregues pelo Governo de Minas no início deste mês, mas os gestores municipais reclamam que o quantitativo ainda é insuficiente para uma imunização efetiva dessa categoria.

Algumas cidades da região metropolitana com polos industriais importantes, como Betim, Santa Luzia e Vespasiano, já começaram o processo de vacinação dos industriários. Mas Contagem só deve dar início nesta semana, enquanto Belo Horizonte afirma que só poderá iniciar essa imunização quando receber um quantitativo suficiente para o grupo. O problema é que a capital estima ter cerca de 200 mil trabalhadores da indústria e chegaram cerca de 30 mil doses para o grupo até o momento.

Um dos principais desafios dessa vacinação é a grande variedade de atividades econômicas consideradas industriais pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) – são mais de 40. Nesse bolo, pode entrar a Fiat, com mais de 10 mil funcionários, ou uma confecção de roupas com dez costureiras.

Outra questão é compreender a lógica de trabalho nas grandes indústrias, onde as escalas são rigorosamente cumpridas para que as máquinas não parem. “Não dá para chegar a uma empresa e impor um esquema de vacinação, desconsiderando a sua organização do trabalho”, afirma Augusto Viana, secretário de Saúde de Betim.

O município decidiu começar a imunização pela refinaria Gabriel Passos, da Petrobras, como um protótipo para o que será levado para outras grandes indústrias de Betim. O fato de a empresa já possuir um departamento de saúde contribuiu para a aplicação das doses em petroleiros que ainda não haviam sido imunizados por idade.

O planejamento junto aos agentes de saúde da própria empresa foi fundamental para que a vacinação não atrapalhasse a jornada dos trabalhadores. “Tem determinados setores que não podem parar. Não tem como desligar a máquina para tirar todo mundo da linha de produção. Vimos que a estratégia depende da realidade da empresa”, explica Augusto.

Betim, que estima ter 50 mil industriários, também já levou a vacinação para a Fiat e abriu dois pontos de vacinação para empresas de médio e pequeno porte. Em dois dias, 1.600 trabalhadores da indústria foram imunizados.

Contagem inicia imunização nesta semana

Em Contagem o processo deve ser iniciado esta semana. Antes de dar início ao processo, a secretaria de Saúde esperou um levantamento de dados pela secretaria de Desenvolvimento Econômico junto às empresas. Foi levantada uma lista nominal dos trabalhadores, para evitar que pessoas que se vacinaram nos municípios de residência tomem outra dose dentro da empresa. Já para as indústrias menores, serão abertos pontos de imunização. Estima-se que existam 50 mil trabalhadores da indústria na cidade.

“Se a vacinação fosse por idade, conseguiríamos fazer mais rapidamente. Mas temos que respeitar o que está colocado pelo PNI”, afirma Fabrício Simões, secretário de Saúde de Contagem. “Claro que pode haver discussão sobre quem passa por mais riscos, se é o industriário ou o caixa de supermercado, mas a vacina já chega ao município carimbada. E Contagem tem seguido de forma conservadora o plano de vacinação”.

Infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Unaí Tupinambás acredita que seria muito melhor o Ministério da Saúde privilegiar a vacinação por idade neste momento do que categorias profissionais – além dos industriais, faltam ainda bancários e funcionários dos Correios, recentemente incluídos no PNI. Como a vacinação por idade requer apenas um documento com foto e comprovante de residência, ela tende a ser muito mais dinâmica.

“Nesse momento, em que já foram vacinados os trabalhadores de saúde, os idosos e com comorbidade, eu acho que logisticamente ficaria muito mais simples por idade mesmo. Especialmente porque muitos desses industriários estão na faixa de 40 e 50 anos já estão imunizados. Claro que temos que proteger a força de trabalho, mas logisticamente seria mais fácil avançar por idade”, explica.

Fiemg recomenda diálogo com prefeituras

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) recomenda aos industriários do Estado que conversem com as prefeituras em que suas empresas estão sediadas para pressionar para que a vacinação dos industriários efetivamente aconteça, seguindo o PNI.

Para Flávio Roscoe, presidente da Fiemg, como as prefeituras não têm recebido o quantitativo suficiente para vacinar todos os industriários, elas podem começar pelos funcionários que estão mais expostos a riscos, como o “chão de fábrica”. “O trabalho coletivo deve ser priorizado, porque na linha de produção o trabalhador é fundamental. Então é possível fazer uma priorização não por atividade da empresa, mas por tipo de profissão”, afirma.

Belo Horizonte espera doses para vacinar industriários

A Secretaria Municipal de Belo Horizonte informou que tem seguido todas as orientações do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, mas espera receber o quantitativo de doses para imunizar completamente o grupo de trabalhadores da indústria, e não somente parte dele.

“O levantamento realizado pela Secretaria Municipal de Saúde, junto aos sindicatos e federações, com base na nota técnica enviada pelo Ministério da Saúde – que discrimina quem é elegível para o grupo – constatou que seriam necessárias cerca de 200 mil doses para imunizar este público”, informou a pasta por meio de nota.

Desde junho, 70% das vacinas contra a Covid-19 recebidas por Minas Gerais são destinadas para aplicações por idade decrescente, enquanto 30% servem aos grupos prioritários. A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) explica que a distribuição de doses para os trabalhadores da saúde começou na 28ª remessa. Foram destinados imunizantes para 4% da população deste grupo no primeiro lote,5,8% no 29º lote e 11% no 30º.

“O quantitativo populacional de cada grupo elencado para a vacinação deve ser considerado, ou seja, cada município irá receber vacinas conforme o percentual de atendimento que será aplicado considerando o quantitativo de pessoas incluídas em cada grupo prioritário”, afirma a secretaria por nota. Para o quantitativo para industriários de cada cidade, a SES levou em conta um formulário preenchido pelos municípios com a previsão de trabalhadores em seu território.

(CINTHYA OLIVEIRA – O TEMPO)

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