Uma leitora de meus artigos e crônicas envia um E-mail com duas perguntas: “O que você quer dizer com ter sintaxe mental? e “O que um escritor tem que dizer?” Resposta: Ter sintaxe mental, acho, é como alguém organiza a sua comunicação com o sistema nervoso central. Se o escritor estiver convencido de que é honesto e tem algo a dizer, é difícil que possa ser um mau escritor, pois vai transmitir as suas ideias de maneira clara. Todavia, nem sempre as ideias podem ser claras; às vezes são escuras. Afinal, até a Lua tem o seu lado escuro!
Eu tenho dois livros publicados: “Moinhos de Vento” e “As Quatro Faces do Tetraedro”. E escrevo sempre com regularidade para jornais e revistas porque acho ter sempre o que dizer. Entretanto, se a escrita fosse a minha atividade principal já estaria falido! O problema do escritor é quase sempre o crítico. Ele sabe que o escritor é quem paga a manteiga que passa no pão pela manhã!
O consagrado escritor Primo Levi, nascido em Turim, em 1919, e formado em Química, era de origem judia. Em 1944 foi mandado a Auschwitz; e lá teve que trabalhar num laboratório químico, sempre com a morte à sua espreita. Em 1987, bem depois da sua libertação, ele se matou. No ano anterior à morte, publicou “Os Afogados e os Sobreviventes”, no qual relata a dor que padecia por ter sido prisioneiro daquele campo de extermínio.
William Faulkner, escritor americano, considerado um dos maiores romancistas do Século XX, escreveu: “Acender um fósforo no meio da noite num descampado não permite ver nada mais claro, apenas ver com clareza toda a escuridão”. – E é verdade: a literatura faz isso, mais do que qualquer coisa. Não ilumina, exatamente, mas, como o fósforo, permite enxergar o tamanho da escuridão ao redor. Os escritores, como os cegos, podem enxergar na escuridão!
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
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