Foi no dia 10 de Janeiro de 1975. Adolfa Martiniano, mulher do meu tio Luna (Joaquim de Luna Botelho), me telefona de Juiz de Fora-MG: “Paulo Augusto, venha para cá; o Luna quer se despedir de você!” – Não pensei duas vezes, já sabia que o câncer de pulmão estava liquidando com a vida dele. Sentado numa poltrona, Luna se levanta para me abraçar; e tira do pulso o seu relógio Breitling e diz: “Fique com isto; é apenas uma pequena lembrança!” O nosso vínculo não era apenas de tio e sobrinho; era de irmandade e, sobretudo, de amizade. A nossa conversa seguia interrompida, a quase todo instante, pela tosse e pela respiração ofegante. Ele não queria falar do seu sofrimento; queria falar de coisas engraçadas que vivenciara ao longo de sua vida. A que mais chamou a minha atenção foi um fato ocorrido com o Superintendente dos Correios e Telégrafos, o Paulo Gomide, chefe do Luna, então Inspetor Regional da mesma instituição pública. Personagem central do fato: o então famoso advogado Sobral Pinto. Em 1944, o católico de comunhão diária, ferrenho anti-comunista, porém um combatente contrário à Ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945), se envolve em um rumoroso caso de adultério. Com quem? – Com a mulher do Gomide. Marido traído, encontra um bilhete meloso endereçado à esposa. Furioso, Gomide vai tomar satisfação com o autor do bilhete; e acaba dando alguns socos na cara do “amigo da onça”! Isso bem em frente a uma livraria católica no centro do Rio de Janeiro! De nariz quebrado e envergonhado, Sobral rompe o romance e vai pedir remissão dos pecados ao Arcebispo que lhe impõe duas penitências: rezar um Terço do Rosário, ajoelhado no milho; e ler as “Confissões” de Santo Agostinho! Depois de mais uma crise de tosse, Luna conclui: “Até a Lua tem o seu lado escuro!” – Acho que o Luna partiu para descansar em um lugar confortável e, sobretudo, bem iluminado!
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
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