Sobre um encontro fatal

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Aquele encontro, marcado com antecedência, pareceu aos convocados como que meio nebuloso. Os 28 convocados, todos gerentes de agências de um renomado banco, estavam na faixa dos 50 anos de idade e com mais de 25 de tempo de serviço. Tal encontro ocorre em um hotel-fazenda de Serra Negra, aprazível cidade do interior paulista. Com início na noite de uma sexta-feira e término previsto para o começo da noite do sábado daquele Agosto; dia e ano de azar para aqueles gerentes! Cada um passa a portar um crachá com nome e sobrenome. O banco contrata uma estereotipada psicóloga que, por sua vez, vai direto ao ponto: “Vocês estão aqui para conhecer e participar de um processo de recolocação por meio de Outplacement”. – E ela explica: “O Outplacement é uma estratégia de planejamento de carreira para o mercado de trabalho”. – E, com cinismo, acrescenta: “O banco lamenta muito, mas vocês deverão deixá-lo no prazo de três meses a contar da data de hoje!” – Dito isso, eles passam a tomar conhecimento do “ganha-a-ganha” estabelecido pelo Outplacement. O como se portar nas eventuais entrevistas de seleção acaba consumindo todo o sábado. Já no Café da Manhã, o Paulo César Dávila, diretor administrativo do banco, procura ser agradável ao grupo, porém sem sucesso. Ele se senta na cabeceira da mesa do Café tendo ao seu lado o gerente Armando Fragoso Neto. Logo que lê o nome do Armando no crachá pede, com um sorriso nos lábios: “Armando, me passa o requeijão!” – Baixo, magro e enrugado, Dávila cultivava uma densa barba grisalha, além de um rabinho de cabelo puxado na nuca! – Armando ficara órfão dos pais aos 8 anos de idade por causa de um acidente rodoviário. Criado pelos avós, inicia aos 14 anos no mesmo banco como mensageiro. Bem tarde da noite daquele sábado, de volta para casa, Armando encontra a mulher, ansiosa e a perguntar: “E daí, como foi o encontro?” – “Tudo bem, minha flor, acho que devo continuar como gerente da minha agência; hoje mesmo, no Café da Manhã, o Dávila me pediu, com um sorriso amigo, para lhe passar o requeijão!”

Ah, acabo de me lembrar de uma frase do Ato 3 de “O King Lear” de Shakespeare: The prince of darkness is a gentleman”. (O príncipe das trevas se assemelha a um cavalheiro).

 

Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.

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