Recebi, em fins do ano passado, um E-mail – bem provocador – de uma leitora que afirma ou pergunta: “Como você deve ser marxista, gostaria de saber para poder entender o capitalismo que Marx critica e descreve”. – Mas, vamos lá ao que interessa. Havia pouco mais de umas 20 pessoas presentes no funeral de Karl Marx naquela manhã de um dia de Março de 1883 em Londres. Marx morre pobre e endividado: um paradoxo para quem escreveu tanto sobre o dinheiro e suas funções! – Quero informar à essa leitora que não sou marxista; ninguém é marrxista, tampouco Marx foi marxista; na verdade ele foi um destacado humanista. – Mas, por quê ele continua sendo tão importante? – Porque é indispensável, pois continua sendo uma referência. O que Marx propõe em “O Capital” é um Método de Análise. Políticos e pretensos eruditos de hoje – e de ontem – gostam de mencionar a palavra “globalização”, em qualquer oportunidade, sem perceber que Marx já estivera por dentro do tema em 1848. A dominação global do MC Donald’s e da MTV não teriam causado nenhuma surpresa para ele. O deslocamento do poder financeiro do Atlântico para o Pacífico – graças à economia dos Tigres Asiáticos – foi previsto por Marx bem antes do nascimento do bilionário americano Bill Gates! Desde Jesus Cristo, nenhum pobretão obscuro havia inspirado tanta devoção global ou sido tão mal interpretado. É que Marx requer cultura e erudição de seus intérpretes. Aqui na Botocúndia (leia-se Brasil), só consigo enxergar quatro bons intérpretes de Marx: Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares, Delfim Neto e Luís Gonzaga Belluzzo. “O Capital” é uma obra muito rica, não obstante toda a penúria pela qual passara o seu autor. Marx achava que o sistema capitalista força todo mundo a colocar o interesse econômico no centro da vida, de forma que assim ninguém consegue ter relacionamentos sinceros e duradouros. Ele chama essa tendência psicológica de “fetichismo da mercadoria”, porque leva as pessoas a valorizar coisas sem valor objetivo e estimula-as a enxergar os relacionamentos somente em termos econômicos. – Shakespeare, os gregos, Balzac, Bach e poesia são encontráveis nas páginas de “O Capital” ao lado de economistas, sociólogos, filósofos e jornalistas curiosos. Marx trabalha com muitas fontes, e pode ser instrutivo e divertido. – Sabe-se que ele leu de “cabo-a-rabo” toda a obra de Balzac, pois pretendia escrever um estudo circunstanciado sobre “A Condição Humana”, obra central do genial francês; todavia, ele não conseguiu arranjar tempo. – Uma pena!
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
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