De Ouvir e de Entender

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Eu quis muito ter tido sucesso escrevendo roteiros de rádio. Pura pretensão! Um texto radiofônico só pode ter, no máximo, 30 minutos de duração para contar uma história; e precisa ter concentração nas palavras. Nada é visível. Na verdade, é como representar em um quarto escuro. Então, numa boa peça radiofônica a economia de palavras é tudo. Leva os ouvintes a perceber o que é o poder de uma boa frase. E a frase em um texto certo pode economizar uma folha A-4 de papel sulfite. Outra forma seria desperdício. Acho lamentável que o rádio não tenha durado o tempo necessário para que os movimentos sociais e políticos contemporâneos pudessem ter proveito. É natural para a poesia e para os poetas. É pura voz, puras palavras. Palavras e silêncio. Mas, o que dizer das programações de rádio e tv de hoje em dia? – Violência, imbecilidade, ignorância e vozes de sovaco a ferir os ouvidos de uma população esclarecida! 

Algumas vezes, escrevi peças de rádio. Na verdade, só umas duas ou três – e que tive a ousadia de enviá-las ao Túlio de Lemos. O Túlio mandava em toda a programação da Rádio Tupi (depois TV Tupi). E tive alguma proximidade com ele, pois era irmão da Maria de Lemos Luna (Mariazinha), mulher do médico Antonio de Luna, meu primo em segundo grau. Um ou dois meses depois da remessa de minhas novelinhas, recebi um telegrama do Túlio. Sujeito muito culto, voz de barítono, meio grosso e brincalhão, escreveu: “Paulo, você precisa comer muito feijão para poder escrever radionovela. Mas, não desanime. Você ainda tem jeito!” – Só que ao invés de feijão, acabei comendo muito queijo; daí o fracasso!

Na dinâmica – ou retrocesso – da vida de hoje em dia, perdeu-se a técnica de abordagem da vida: aquela vida que Homero propunha e que Shakespeare também propunha. Da mesma forma que os ingleses chamam Shakespeare de “O Bardo”, os antigos gregos se referiam a Homero como “O Poeta”. E assim como Shakespeare, Homero, autor da “Ilíada” e “Odisseia”, pertence ao mais alto grau de escala da poesia oral.

Em resumo, aqui deixo a expressão máxima de oralidade por meio do grande poeta Olavo Bilac: “Ora direis ouvir estrelas. Pois, só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e entendê-las!” – É isso.

 

Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.

Visite o Site https//paulobotelhoadm.com.br

 

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