Passados tantos anos, ainda me lembro da Fazenda Monte Cristo da minha bisavó América Bueno. Ela ficava no meio do caminho entre Muzambinho e Monte Belo – Sul de Minas Gerais. Era uma Fazenda de uns 400 alqueires e produzia café – um tanto para o consumo -, além de feijão, batata, hortaliças, frutas diversas e pequeno gado leiteiro. É com saudade que lembro daquele café e dos biscoitos de polvilho da bisavó, cada vez que me aproximava de lá! Nos ultimos meses, o preço do café tornou-se uma angústia para nós trabalhadores. Dependendo da marca, o quilo do produto tem chegado a mais de 50 reais. Em 1 ano, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP, o preço pago aos produtores aumentou 152%. – “O que foi tornará a ser; o que foi feito se fará novamente. Não há nada de novo debaixo do Sol”. – É a explicação do Eclesiastes 1:14 – Cap. 42 do Livro dos Salmos. No início dos anos 1950, as exportações de café representavam 2/3 das exportações do país. Foi o economista brasileiro Eugênio Gudin que inventou o aforisma “Café é Câmbio”. Em 1973, as exportações de café não chegavam a 20% do total. – Havia café para toda a população, especialmente para a mais pobre que o consumia todos os dias. O custo social de defesa do café foi maior do que se pode pensar, pois manteve no mercado produtores ineficientes a gerar condições desfavoráveis ao desenvolvimento industrial do país. O governo pode reduzir o preço do café? – Não, o governo não tem controle sobre os preços, pois os preços são definidos pelo mercado. Isso faz parte desse Neoliberalismo (de prática infame) que defende a absoluta liberdade de mercado e uma restrição continuada à intervenção estatal sobre a economia. Para entender tamanho embuste é preciso recorrer ao grego, a única língua que o Diabo respeita! E, claro, para isso é que existem os idiotas para fazer funcionar esse Neoliberalismo. Mas, como se dá a construção desses idiotas? – Se dá por meio do empobrecimento da linguagem e de sua omissão de interação coletiva. A desvalorização do pobre, subjugado por um Salário Mínimo de 1.518 reais, por mês, fica excluído do café diário, sequer uma ou duas vezes no mês. Como é possível incluir 1 ou 2 quilos de pó de café ao custo de 99 reais? – “Abyssus abyssum invocat”, isto é, “Uma desgraça chama outra”. Então, afinal, para onde vai o dinheiro das exportações? – Ora, vai para a parte mais sensível do corpo humano dos especuladores: os bolsos! Exportar é o que importa!
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
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