Depois de certa idade, e muitas experiências na vida, a gente acaba encarando com certo conformismo coisas que nos chocariam, tempos atrás. Mas mesmo assim, tem coisas que me tiram do sério. Mesmo que vivesse quinhentos anos, ainda assim não entenderia nem aceitaria certas atitudes de certas pessoas. Como aceitar que, em pleno século 21, no meio de uma das pandemias mais mortais da história da humanidade, algumas pessoas se recusem a aceitar a vacina, o único antídoto disponível até agora? Está mais que provado, pelas estatísticas que temos até agora, que as vacinas realmente representam uma segurança eficaz contra a Covid e seus principais sintomas. Poucos dias atrás a Folha de São Paulo deu em manchete: NÃO VACINADOS SÃO 99% DOS MORTOS POR COVID NOS ESTADOS UNIDOS. Como contestar isso? No Brasil, os números de mortes e internações caem na mesma proporção em que aumenta o número de vacinados. Como não entender que uma coisa está diretamente relacionada com a outra? Que a vacina salva vidas! Agora, pior mesmo é ouvir alguns argumentos de quem se recusa a tomar a vacina. Alguns chegam a dizer que, junto com o líquido imunizante, é implantado um chip no braço das pessoas. Estes, com certeza, acreditam também que a terra é plana. Quando não existem argumentos, alguns se apoiam no sofisma “não quero tomar e o problema é meu”. E erram mais ainda porque o problema, definitivamente, não é só de quem não toma a vacina. É de todos que convivem ou têm contato com esta pessoa. Nós estamos falando de uma doença altamente transmissível e, por isso, quem não é imunizado acaba se tornando uma ameaça para a saúde pública. E quem não se imuniza por opção própria é negacionista. Está entre aqueles que negam evidências históricas e científicas. E que não chegaram agora, viu? Estão entre nós desde sempre. Em 1885, quando uma epidemia de varíola varreu a Europa, circularam panfletos pedindo para a população não tomar a vacina porque ela ‘envenenaria’ o sangue. E na época a taxa de letalidade da varíola chegava a 40%. Ou seja, de cada 100 pessoas que contraíssem a doença, 40 morreriam. Só para se ter uma ideia do que isso representava, basta dizer que hoje no Brasil a taxa de letalidade da Covid beira os 3%. E mesmo assim, representa uma ameaça imensamente maior que a varíola. Sabe porquê? Porque no dia 8 de maio de 1980, a 33ª Assembleia Mundial da Saúde declarou que “o mundo e todos os seus povos estão livres da varíola”. Sabe porquê (parte dois)? Porque a varíola, uma doença que matou 300 milhões de pessoas só no Século 20, foi erradicada da face da terra. Aliás, é a única doença infecciosa completamente erradicada na história da humanidade. E sabe porquê (parte 3)? Por causa de um imunizante chamado VACINA. E é justamente o que temos agora para nos protegermos dessa ameaça mortal chamada Covid 19. Talvez a anti Covid entre na história como a vacina produzida e liberada para a população em menor tempo até hoje na história da medicina. Independentemente disso, ficará em nossas memórias como o imunizante que nos devolveu a esperança. Esperança de que os cientistas abnegados e incansáveis continuem trabalhando para buscar vacinas ainda mais eficazes, que sejam capazes, quem sabe, de erradicar para sempre esta doença tão cruel. E, porque não, também outras doenças que nos afligem. Enfim, esperança de que, um dia, inventem um antídoto eficaz contra o negacionismo e a ignorância. Mas aí também, meu amigo, talvez seja pedir demais.
Por hoje é isso. Semana que vem tem mais. Até lá.
(Raul Dias Filho)
O autor é jornalista e repórter especial da Record TV
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