O coração de Dom Pedro I, vindo de Portugal com enorme alarde do governo Bolsonaro, chegou ao Brasil, semana passada, para os 200 anos da Independência do Brasil. Na verdade uma massa amorfa, sob o efeito de conservante. Para que tamanha necrofilia? – Necrofilia, do grego, necro (morte) e filía (veneração). O povo brasileiro sabe quem é o Bolsonaro. Sabe, mas não se importa. Grande parte desse povo se enxerga nele que tem uma enorme capacidade de atrair ressentidos, frustrados e ignorantes de qualquer nível social. Tal necrofilia só tem servido, a meu ver, a esse necro governo! O historiador Laurentino Gomes escreve que em 1972, ano dos 150 anos da Independência, Dom Pedro I foi mostrado no filme “Independência ou Morte” como um herói de porte marcial. – Era a moldura que lhe cabia naquele momento em que a Ditadura Militar torturava presos políticos, propagandeava o milagre econômico e tentava enfeitar a história oficial por meio da disciplina “Educação Moral e Cívica” nas escolas de todo o país.
Nascido no palácio de Queluz em Lisboa, Portugal, Dom Pedro I mantinha negócios que se chocavam com as responsabilidades da função de Imperador: produzia cachaça, comercializada pelos botequins cariocas, além de arrendar os pastos da Fazenda Real para descanso do gado que descia de Minas Gerais para o Rio de Janeiro. São escassas ou imprecisas as informações sobre a sua educação. Cartas e bilhetes hoje preservados nos arquivos revelam baixo domínio da língua portuguesa. Há erros de ortografia, concordância e de pontuação. Sua vida privada foi intensa e tumultuada. Gostava de farras, noitadas e de amigos de má fama.
Autora de um perfil psicológico da Imperatriz Leopoldina (mulher oficial de Pedro), a psiquiatra Maria Rita Kehl afirma que 1821 foi o ano de decisivas mudanças na vida de Leopoldina que selou o seu destino. A maior mudança está relacionada ao seu envolvimento político que a levou a desempenhar um papel fundamental na Independência ao lado de José Bonifácio de Andrada e Silva. A declaração da Independência, redigida por José Bonifácio, foi assinada por Leopoldina e enviada a Dom Pedro que estivera a caminho de São Paulo vindo de Santos, isto é: a Independência foi feita por Leopoldina e José Bonifácio; cabendo a Pedro apenas a encenação do “Grito do Ipiranga!” “Aos vinte e poucos anos de idade, Leopoldina era uma mulher envelhecida e deprimida”, escreve Maria Rita Kehl.
Em o “Samba do Crioulo Doido” de autoria de Sérgio Porto (vulgo Estanislau Ponte Preta) ficou registrado na memória ou no coração do brasileiro o tamanho da Inconsciência nacional; a conferir: “E foi promulgada a escravidão / Assim se conta essa história / Que é dos dois a maior glória / Dona Leopoldina virou trem / e Dom Pedro uma estação também!
Por Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
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