Havia apenas onze pessoas no funeral de Karl Marx naquela manhã chuvosa e fria de março de 1883, na cidade de Londres. – Importância negligenciada desde então! As ideias de Marx transformaram o estudo da economia, da história, da geografia, da sociologia e da literatura. Desde Jesus Cristo, nenhum pobretão obscuro havia inspirado tanta devoção global – ou sido tão mal interpretado! O Capital é um livro muito rico. Shakespeare, os gregos, Balzac, contos de fadas, lobisomens, vampiros e muita poesia são encontrados em suas páginas, ao lado de economistas, políticos e filósofos. Marx trabalha com uma gama enorme de fontes, e pode ser muito instrutivo – e divertido! Quando comecei a ler Marx, ainda não tinha lido o francês Balzac, por exemplo. Mais tarde, ao lê-lo, peguei-me algumas vezes lembrando: Ah, foi daqui que ele tirou tal coisa! Segundo consta, Marx leu toda a obra de Balzac e pretendia escrever um estudo completo sobre A Comédia Humana, depois de terminar O Capital. Ler ao mesmo tempo Balzac e Marx ajuda a entender o por quê. Os melhores leitores e intérpretes de Marx – aqui no Brasil – são, a meu ver: Celso Furtado, Florestan Fernandes, Delfim Neto e Luis Gonzaga Belluzzo. O capitalismo não é nada se não estiver em movimento. O capital não é uma coisa, mas um processo que só existe em movimento. Quando a circulação cessa, o valor desaparece e o sistema começa a desmoronar. É só lembrar do que aconteceu depois do 11 de setembro de 2001, em Nova York: tudo ficou paralisado. Os aviões pararam de voar, as pontes e estradas foram fechadas. Três dias depois, percebeu-se que o capitalismo desmoronaria se as coisas não voltassem a se movimentar. Então, o prefeito e o presidente pediram que a população sacasse seus cartões de crédito e fosse às compras, voltasse à Broadway e lotasse os restaurantes! – Deus está nas coincidências; e o Diabo nos detalhes!
Mesmo que as concepções mentais não possam melhorar o mundo, as ideias são uma força material na história. – Somente as lições da realidade é que podem nos ensinar a transformar a realidade! – É isso.
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
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