Rebeca, minha neta, veio me visitar dia desses; e pega para ler uma crônica que eu acabara de compor. Surpreso pelo interesse, digo: Acho que é só você que se interessa em ler o que escrevo! Mas, ela rebate: “Não, vô, a tia Ana lê e gosta muito!” Todavia, acabei me lembrando de um caderno daqueles que na contra-capa trazia a letra do Hino Nacional. Bem, aos jovens que porventura me lêem, advirto: isso foi no tempo do guaraná com rolha! Ao me decidir pela literatura, fiquei a um só tempo alegre e com uma sensação de vazio; ao tomar consciência de que qualquer coisa (boa ou má) deixa um vazio quando acaba. Se má, o vazio se enche por si mesmo; se boa, só se pode enchê-lo encontrando alguma coisa melhor. Ler foi o que encontrei de melhor por meio de boa convivência com o médico Samuel de Assis Toledo e sua eclética biblioteca. Autores como Shakespeare, Flaubert, Proust, Joyce, Tchekov, Juan Rulfo, Guimarães Rosa e Machado de Assis lá estavam, nas prateleiras, à minha espera! E constatei que não há literatura sem leitura. Mais que uma arte, a literatura é uma energia, uma ferramenta para realizar mudanças na cabeça e no coração dos leitores. Ficou registrado naquele caderno a existência de um professor de Português, recém-saído de um seminário de padres franciscanos. Andar de meio galope, cara de quem comeu e não gostou, mas de quem continuaria a comer! Nada de regras gramaticais, tampouco de literatura. Anos se passaram e o caderno acabou ficando borrado com o registro da ascensão daquele altivo senhor: alçado pelo “partido Arena” – guindaste da Ditadura Militar – ao posto de vice-governador do meu humilhado Estado de Minas Gerais!
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
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