De Vidro e Corte

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Acho que eu só tinha 8 anos, quando ganhei um par de botinas da dona Maria de Luna Botelho, minha avó. Era para proteger os meus pés, quase sempre descalços, nos dias de chuva e enxurrada que traziam vidro e corte. – Quanta dor!

Não sei ao certo por qual razão passei a me lembrar do drama de Édipo, personagem trágico do poeta grego Sófocles. Para salvar uma cidade subjugada por uma esfinge que ameaçava o povo de fome e de peste, Édipo teria que resolver o enigma proposto pela esfinge: “Decifra-me ou Devoro-te!” Transpondo esse enigma para os dias de hoje, estamos a ficar como Édipo. Os problemas ambientais, também, ficam a nos dizer: “Decifra-me ou Devoro-te!” – Lixo, poluição, enchentes! As cidades continuam a jogar esgoto nos afluentes dos córregos e rios. Ligações clandestinas de esgoto e todo o entulho despejado pelas pessoas sem educação, sem nenhuma civilidade, a contaminar os córregos e rios. Sacos de lixo colocados fora do horário de recolhimento são rasgados por cães e gatos; e esse lixo vai entupir bueiros e galerias. 

Hegel, o filósofo alemão, autor de “A Fenomenologia do Espírito” constata: “Em cada anoitecer dorme uma porção de luz, mas há quem apague as luzes de dentro”. – E aí, eu fico a pensar que existem mesmo pessoas que já nascem sem os fios ou sem os mecanismos dessa compreensão de Hegel!

Retomando o enigma da esfinge, Édipo, então, chama Tirésias que enxergava a verdade embora fosse cego. E ele diz a Édipo: “Os teus olhos de nada adiantam, pois você não consegue enxergar a miséria ao seu redor!”

– -É mesmo de doer: uma dor de vidro e corte; ou de vida e morte!

 

Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.

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