Dia desses li a seguinte frase contida em um livro de um incensado escritor, comedor de bolachas da ABL – Academia Brasileira de Letras! “Ele se sentou, impassível, ao lado do cadáver, esperando pelo legista tão pacientemente quanto uma pessoa espera por um sanduíche de presunto e queijo”. Se existe alguma conexão esclarecedora neste parágrafo, não consegui fazer. Como resultado, fechei o livro na página 19 sem ler mais nada. Se um escritor sabe o que está escrevendo eu continuo lendo. Se não sabe, não tenho tempo a perder com certos escritos. Faz tempo que dobrei a casa dos 60 anos. E esse meu tempo vai encurtando, embora a vida insista em seguir em frente; o que se há de fazer! A boa literatura é uma ciência tão exata quanto a geometria. Reproduzo, a seguir, um parágrafo bem escrito: “Havia também pausas. Duas outras vezes, pareceu-me que a via dormir; mas os olhos cerrados por um instante, abriam-se logo sem sono nem fadiga, como se ela os houvesse fechado para ver melhor”. (Missa do Galo – Conto de Machado de Assis). Certa vez, o compositor Tom Jobim encontrou-se com o poeta Carlos Drummond de Andrade.E Tom pede a ele a indicação de um bom dicionário da Língua Portuguesa. – E o poeta responde: “Quem escreveu Águas de Março não precisa de dicionário!” É lendo muito que a gente aprende a escrever melhor. E escrever diz respeito apenas ao que se passa entre o leitor e a página. De vez em quando vem a pergunta que me fazem: “Quando e como você escreve?” – Respondo que tento escrever todos os dias, exceto aos domingos. Hemingway dizia que escrever no domingo dá azar; às vezes escrevo no domingo, mas acabo tendo azar assim mesmo!
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
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