Dia desses, de pandemia sem fim, estive pensando com tristeza neste Brasil tão sofrido sob a usinagem da burrice siderúrgica (combinação de estupidez, ignorância e falta de consideração) dos atuais dirigentes (leia-se predadores) deste país. Por isso, demorei para assimilar uma notícia veiculada pelos jornais aqui do Sudeste. A notícia, com foto, veio do Nordeste, de Pernambuco. – “Uma menina de 8 anos de idade, agarrada à sua mochila, é resgatada de enchente”. – E o que tinha dentro da mochila? – Um livro, um caderno e um lápis, além de uma sandália e uma boneca. A menina de nome Rivânia, foi orientada pela avó a salvar só o que fosse mais importante para ela. Rivânia não salvou a sua única boneca de pano, tampouco a já gasta sandália havaiana. Salvou, apenas, a mochila com o livro, caderno e lápis.
Tal como o feijão e a farinha de mandioca, o livro é para ela um produto de consumo; um bem de subsistência.
Assim como o caderno e o lápis, o livro é uma invenção consolidada a ponto das revoluções tecnológicas (Internet e suas variáveis) não terem meios de acabar com ele.
Todos os dias no Brasil é plantado, em média, o equivalente a uma área de 500 campos de futebol de árvores para a produção de papel. Brasil e India são os dois maiores produtores de lápis do mundo.
O livro não descansa. Na estante, ou amontoado ao ar livre, os anos passam por ele como ventos macios. Indiferente a tudo, segue seu caminho. Resiste a tudo: aos anos, aos leitores, aos críticos. – E às enchentes, pois ele sabe que sempre haverá uma Rivânia, com caderno e lápis, a registrar as tentativas para o seu desaparecimento.
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
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