Foi em um Café de Paris à Rue des Boulangers – Quartier Latin – em Setembro de 2016. Não há Café de Paris sem uma boa conversa. No caso, a conversa não foi nada agradável, sequer elucidativa, pois os dois conversadores nada tinham em comum, exceto o Congo, país saqueado pela Bélgica. Um dos conversadores, o Hildebrando Bueno, conhecido dos meus leitores; o outro, um médico belga, implacável caçador de leões. Utilizando-se de um francês macarrônico o médico passa a se exibir: “Eu atiro em um leão a uma distância de 100 metros, pois, mesmo ferido, ele pode percorrer mais de outros 100 metros em menos de 8 segundos!” – “Ah, rebate Hildebrando: mesmo ferido ele vai pegá-lo!” – E o médico prossegue: “É certo, se você atira nele, o tiro não vai pará-lo; você tem que atirar com a precisão de um cirurgião fazendo mira no osso de uma das patas dele para poder quebrá-la!” – O frágil e o já combalido estômago do Hildebrando começa a dar sinais de vômito, tal a frieza do médico. Hildebrando já andava horrorizado com o que soubera do Congo, semanas antes daquela conversa. A Bélgica impusera ao Congo um dos regimes mais perversos e infames da história da humanidade. Além da matança de leões, elefantes e leopardos, tem, por lá, até hoje, a escravidão humana como prática ilimitada. Hildebrando não deixa que a conversa termine impune; e diz, exaltado e irônico: “Enquanto você estiver fazendo pose para a foto, com o pé em cima da cabeça do leão morto, a fêmea dele chega e o ataca rasgando-o pelo meio. E a foto, lá para os seus, vai sair bem desalinhada!” – O médico belga, matador de leões, deixou a mesa do Café sem pagar a sua parte da conta!
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
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