A escrita nem sempre clareia; é como o riscar de um fósforo que ao acender permite, apenas, enxergar o tamanho da escuridão. O escritor é um observador da sociedade e da natureza humana; e a literatura o ajuda a obter energia para produzir algum conhecimento. – “Palavra puxa palavra; uma ideia traz outra”, ensina Machado de Assis. – Acho mesmo que é desse jeito que a natureza compõe as suas espécies. A busca pela palavra certa não é nada fácil. – Escrever é mais que associar palavras e ideias; é buscar uma sintaxe que faça chegar ao leitor um entendimento objetivo e simples. – Não gosto de escrita com frases volumosas, cheias de adjetivos e advérbios; os advérbios terminados em MENTE empobrecem o texto que se pretende bem elaborado. – Georges Simenon, o criador do detetive Maigret, espremia os seus escritos como se usasse um alicate. A lição que assimilei dele é a de economia. – É preciso dizer o que se quer com economia e, se possível, com alguma iluminação poética. Prefiro escrever sempre na parte da manhã ou da noite; na da tarde fico burro! As palavras são apenas vagas sombras do que se pretende dizer; no entanto, o acender do fósforo permite enxergar com clareza a dimensão da escuridão.
– Os cegos, os poetas e os escritores podem enxergar na escuridão.
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
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