Cristóvão, goiano de Anápolis, orgulhava-se de ser de circo mesmo antes de ter nascido; e não era preciso vê-lo a atuar para descobrir que era um hábil domador de feras. Chamava-as pelos nomes, como se fossem membros da sua família; e elas respondiam com uma reação ao mesmo tempo amorosa e brutal. – Mas, qual era o segredo do Cristóvão? – Era a pergunta que as pessoas faziam. Ele entrava desarmado nas jaulas dos tigres e dos leões para lhes dar comida na boca. De um urso de estimação – e o mais mimado – chegou a ganhar um abraço de amor que fez com que passasse dois meses hospitalizado; isso naquela última cidade visitada, porém pouco ou quase nada lucrativa. Entretanto, Cristóvão, que além de domador era, também, o dono do circo, resolve acabar com ele. Sem dinheiro, e já sem a mulher, quer reconstruir o circo naufragado. – E vai para uma outra cidade do Sul de Minas Gerais. – Despede-se do seu amigo Hildebrando Bueno, com um abraço tão dilacerado, que o amigo acabou compreendendo a dimensão do amor do urso! – Ninguém nunca mais soube do domador. – “Mas, isso aconteceu de verdade?” – Somente uma mulher perguntaria ao ouvir o relato de uma história tão estranha e sem graça como essa! – Às vezes é preciso rir. O humor é uma forma de anestesiar o coração no sentido de que uma boa parte das pessoas é mesmo dura; difícil de aguentar! – Todo circo é redondo; o mundo é redondo (alguns acham até que é plano); o Diabo é redondo; e o segredo é redondo!
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
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