Muzambinho, 3 de dezembro de 2024

O triste rastro da Covid

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No dia 26 de fevereiro de 2020, exatamente 16 meses atrás, era registrado o primeiro caso oficial de Covid 19 no Brasil. O paciente era um homem de 61 anos, brasileiro, rico, que tinha voltado de uma viagem à Itália, apresentou os sintomas, se internou no hospital Albert Heinstein, em São Paulo, e saiu dias depois, recuperado. Nessa altura do campeonato a vida seguia normal e tranquila, especialmente aqui nas cidades da região. Em Muzambinho, a cidade ainda se recuperava da ressaca de um carnaval onde Cláudia Leite havia sido a atração principal. Nas demais cidades, com carnavais menos badalados e concorridos, já começavam os preparativos para a colheita do café e as discussões em torno dos nomes que seriam candidatos nas eleições municipais. Ninguém, absolutamente ninguém, imaginava que aquele final de fevereiro marcaria o início do longo e interminável pesadelo que todos vivemos desde então. Nos meses seguintes, nossas rotinas foram brutalmente alteradas. Álcool em gel, máscaras, distanciamento, home office, medo, esperança e saudade se tornaram companhias constantes. Aqui na região, onde as cidades são menos populosas e não há circulação massiva e constante entre os moradores dos diversos municípios, os focos foram isolados. Mas nem por isso menos assustadores. Quando surgiram, se espalharam rapidamente e transformaram algumas cidades em pequenos covidários, onde a transmissão fluiu, descontrolada. E assim, pouco a pouco, o vírus foi ganhando terreno. A primeira cidade a sofrer mais intensamente foi Juruaia. Por ser um polo de lingeries e ter muitas confecções, alguns tentaram explicar as infecções em Juruaia com diagnósticos tão apressados quanto imprecisos:  “ah, vem muita gente de fora”, “circulam muitos turistas”, etc. Teses como essas foram caindo, uma a uma, assim que as demais cidades começaram a apresentar graus parecidos ou até maiores de contaminação. Foi assim com Guaxupé, Muzambinho, Botelhos, Monte Belo e algumas outras. A única cidade que parecia, de certa forma, ‘imunizada’ contra a Covid era Cabo Verde, que continuava apresentando baixo índice de contaminação e óbitos, em comparação com as demais. Por ter uma população menor, e um ritmo de vacinação mais rápido, Cabo Verde se tornou a primeira cidade da região a imunizar todos os idosos do município. Enfim, a cidade parecia uma ilha no meio do caos. Até que, no início deste mês, um foco surgiu, se alastrou rapidamente e Cabo Verde também entrou tristemente nas estatísticas mais cruéis da pandemia. Esta semana, por exemplo, 3 pessoas morreram na cidade, em apenas um dia, vítimas da Covid. Ou seja, não existe porto seguro. Mas isso não significa que “não adianta, todo mundo vai pegar Covid”, como alguém irresponsavelmente falou por aí.  Se trata de uma doença transmissível, logo ela é evitável, sim senhor. Todos sabemos o que provocou os surtos mais avassaladores nas cidades da região: aglomerações. Em uma, as festas, familiares ou não, em chácaras e casas, foi o estopim da transmissão. Em outra, uma reunião religiosa. Em outra, os encontros em bares e um jogo de futebol. Enfim, há explicação, sim, para os surtos e a causa é quase sempre a mesma: aglomerações e falta de distanciamento. Isto não significa, absolutamente, que a culpa pelos surtos é exclusiva dos moradores. Passa pelo governo também, que não oferece vacinas nas quantidades necessárias. A tese de ‘imunização de rebanho’ para uma doença letal num país onde não há leitos nem tratamento para todos é uma falácia criminosa. Mas isso é outra história. E a história há de cuidar disso. Por enquanto, façamos nossa parte, mantendo os cuidados básicos e não baixando nunca a guarda. E agora mais do que nunca, porque os sinais que surgem no horizonte, para todos os brasileiros, não são animadores. A vacinação no país se arrasta a passos lentos e agora, quatrocentos e oitenta dias depois daquele primeiro caso em São Paulo, chegamos em junho de 2021 com a terrível perspectiva de que, em vez de uma melhora no cenário, o que vem pela frente pode ser uma nova e devastadora onda. A terceira onda, que muitos especialistas já chamam de tsunami, por causa do surgimento de novas cepas que tornam a transmissão mais rápida e a doença, mais letal. Enfim, é hora de ter muito, muito cuidado. Já atravessamos a maior parte desse deserto. Falta pouco para chegar do outro lado. Mas os últimos passos podem ser também, os mais perigosos. Por isso, mais do que nunca, se cuide. Se proteja. E proteja aqueles que você ama. Por enquanto, é o que nos resta. Além, claro, de ter fé e acreditar que, cedo ou tarde, tudo isso vai passar.  

Por hoje é isso. Semana que vem tem mais. Até lá.   

 

(Raul Dias Filho) 

O autor é jornalista e repórter especial da Record TV
E-mail: [email protected]

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