De todas as desgraças que nos abateram a mas grave são os 300 anos de escravidã.: Pela Casa Grande, o capataz, violência; pela Senzala, apenas resignação. Acabo de me lembrar do kabengele Munanga, um antropólogo nascido no Congo em 1940. Ele tem se dedicado à questão do negro desde que chegou ao Brasil na década de 1970 para estudar na USP. Os dicionários da Língua Portuguesa definem como nômade aquele ser que vaga, sem destino, e se desvia do caminho da sensatez e do bom senso. Para Kabengele é justamente nisso que a historiografia tradicional busca transformar o negro no Brasil. Segundo ele, um povo sem história, isto é, sem passado, presente e futuro é como um nômade. O negro no Brasil tem um passado que começa na África, de onde foi deportado e escravizado, mas tem um passado de luta para sua libertação; luta pela resistência cultural; e participação efetiva no povoamento demográfico. Tudo isso é o passado que lhe restou!
Machado de Assis, o nosso melhor escritor, é na cabeça de muita gente um “Heleno” (leia-se grego, portador do dom da profecia) quando, na realidade, foi um mestiço claro, embranquecido, um afrodescendente.
Na verdade, quase ninguém é inocente. O vaidoso Sílvio de Almeida, ex-ministro dos direitos humanos e da cidadania do Brasil, responde ao “Mee Too” por importunação sexual de várias mulheres. O ex-ministro Orlando Silva quase perdeu o cargo por ter comprado três tapiocas por 50 reais com cartão corporativo; e a ex-ministra Benedita da Silva foi exonerada do cargo por ter pago, também, com cartão corporativo, a viagem de sua secretária que a acompanhou em Buenos Aires. – Erraram! Todavia, os que roubam milhões “não estão nem aí!” – mesmo com a perda de seus cargos e benesses. – É que o Brasil tem preconceito de ter preconceito!
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
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