Sob o impacto da exclusão

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Estudante de Ciências Sociais, João Carlos (o Joca) estivera cumprindo estágio sobre moradias precárias da cidade de São Paulo. Foi em uma favela (ou comunidade) próxima ao bairro da Freguesia do Ó que ele faz, então, uma visita de pesquisa ou constatação. Hildebrando Bueno, personagem assíduo de meus artigos e crônicas, acompanha o Joca. O casebre visitado, bem no começo de uma das vielas, é o da Mariana: morena, olhos e cabelos negros, dentição perfeita de quem quase nada come, pouco aparenta os seus 40 e poucos anos. Ao abrir a porta do casebre, pergunta com um sorriso: “Vocês querem um café?” – Como não, foi a resposta. Dentro do casebre, a luz do Sol daquela manhã fria de Junho entra pelas frestas deixadas pelos tijolos mal-assentados. Outros tijolos, pintados com as cores verde e amarelo, denunciam a esperança malograda. Um velho e pequeno fogão de uma só boca; uma geladeira a capengar; mesa e cadeiras frouxas. – “Tomem cuidado para não cair de bunda!” – Avisa a dona do casebre. – Mãe de uma filha a sobreviver com ela; o marido “puxara o carro” logo que soube da gravidez. – Um covarde a envergonhar homens de verdade! 

Em “Os Miseráveis”, o escritor francês Victor Hugo escreve: “Eu sonhei um sonho em um tempo passado, quando a esperança era alta e a vida digna de ser vivida”. – Ao deixarem o casebre, Joca e Hildebrando encontram meninos a jogar bola feita de meia. O gol, sinalizado por 4 tijolos (2 de cada lado), é a meta de cada jogador: sem camisa, sem chuteiras, apenas descalços. – “Essa situação infame precisa de um basta!” – Exclama o Joca com voz áspera, sob o impacto da exclusão observada. – Dois ou três dias depois, Hildebrando procura o amigo. Não o encontra. – Vivia-se no país o tempo do Ato 5 da Ditadura Militar que estabelecera mais poderes; sem limites. – Os milicos recrudesceram! –  Não obstante, ainda hoje, eles têm  a pretensão de liquidar de vez com essa democracia a capengar. – Por azar, ou por desgraça, ainda não foi possível realizar mudanças estruturais neste país tão submisso a qualquer poder. – Por quê? – Porque a onipresença do Diabo tem sido a inspiração-chave! – É isso.

 

Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.

Visite o Site https//paulobotelhoadm.com.br 

 

 

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