Muzambinho, 24 de abril de 2024

Sobre a Escrita: Perguntas e Respostas

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HB – Hildebrando Bueno: Alguns críticos dizem que não conseguem entender o que você escreve, nem mesmo depois de o ler duas ou três vezes. – O que você poderia lhes dizer?

PB – Paulo Botelho: Que leiam quatro vezes! Eles são assim mesmo, além de não saberem escrever. Mas sabem muito bem quem paga a manteiga que passam no pão pela manhã!

HB: Quanto de sua escrita se baseia na sua experiência pessoal?

PB: Não sei dizer. Nunca fiz as contas. Porque o “quanto” não tem a menor importância. Um escritor precisa de três coisas: experiência, observação e imaginação. No meu caso, um texto sempre começa com uma ideia, uma memória ou uma imagem mental.

HB: Você costuma ler histórias policiais ou de mistério?

PB: Leio Simenon, porque ele me faz lembrar de Tchekov.

HB: Vamos começar falando sobre seu método de trabalho. Como você escreve?

PB: Sempre escrevo à mão. E quase sempre com uma caneta Bic azul, parecida com aquela que o Bolsonaro usa tão mal. Se fosse capaz de escrever direto no computador, eu escreveria. Teclados me intimidam, E escrever tem um aspecto tátil para mim, além de um fetiche em particular com folhas de papel almaço quadriculados – aquelas com quadradinhos no lugar das linhas. – Loucura leve!

HB: O que mais lhe dá trabalho no processo da escrita?

PB: A busca pela palavra certa; o “le mote juste” como disse Flaubert.

HB: Quais são as qualidades e se procurar num escritor?

PB: Em primeiro lugar, deve haver muito carinho com as palavras, um senso do que é uma boa frase, de como construir um bom parágrafo. Aí, suponho, vem algo que chamo de inteligência literária, o que não significa que você seja uma pessoa brilhante. Mas, saber contar uma história. Como ela começa e como termina. E não cansar os leitores com textos exibicionistas e prolixos.

HB: Quem são os grandes mestres literários – aqueles com os quais você mais aprendeu?

PB: Machado de Assis, Graciliano Ramos, Cortázar, Borges, Tchekov, Simenon, Flaubert, Hemingway, Faulkner, Bach – levaria o resto do dia para me lembrar de todos. E ficaria parecendo que estou reclamando uma erudição que não possuo.

HB: Como é envelhecer para você?

PB: Já passei dos 60 faz tempo. O tempo voa, e a aritmética mais básica mostra que os anos que ficaram para trás são em número maior do que aqueles que ainda se tem pela frente – muito maior. O corpo começa a dar sinais de decadência, doendo e reclamando onde antes não havia nada de errado, e aos poucos as pessoas que a gente ama começam a morrer. E quando a maioria delas se vai, muda o mapa do nosso mundo interior. Um pouco antes de partir, o meu amigo Paulo Vanzolini, biólogo e compositor, disse sobre o envelhecer “Que coisa mais besta de acontecer a um rapaz!”

HB: Uma última pergunta: quem é Eva?

PB: Não é aquela do Adão, mas uma cachorra da minha filha Ana. É uma filhote; e está completando 6 meses; de porte médio, muito esperta e inteligente. Aos sábados ela fica aqui em casa aos meus cuidados, enquanto a dona dela sai com a minha mulher. Eva me monopoliza. E, de muito bom grado, não consigo fazer mais nada!

 

Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.

Visite o Site https//paulobotelhoadm.com.br

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