Li, em Eclesiastes 3:1-8, a recomendação de que há um tempo determinado para todas as coisas. Este escriba não tem formação religiosa para analisar tal temática bíblica, entretanto vou me ater apenas ao dimensionamento do tempo em sua essência. O tempo sempre foi um problema desde o princípio do tempo. Trata-se, portanto, de um problema redundante, pois o problema do tempo é o próprio tempo. Para uns, a realidade é mudança incessante; para outros, o mundo está mesmo em chamas. Segundo Platão, não pode haver presente vivo com passado morto. Na verdade, quando jogamos o passado pela janela, logo ele volta pela porta principal, disfarçado, estranho! E o passado acaba nos seguindo por toda a vida. – É que o cérebro da gente foi feito para guardar o passado e trazê-lo de volta no tempo – e em tempo – para esclarecimentos. A defesa do tempo é a defesa da cultura e da maneira de vivê-la em nossa história. E essa defesa tem um lugar: chama-se presente, aqui e agora.
A grande pergunta da literatura (área que tenho algum domínio) é: por quê a escrita se vê obrigada à sequência ao invés da coexistência? – Acho que é porque a linguagem consiste em unidades sucessivas. Isso ocorre na música e na poesia. É por meio da dramaturgia que Platão, Shakespeare, Faulkner, Bach, Machado de Assis e Érico Veríssimo ( este com o seu histórico “O Tempo e o Vento”) conseguiram obter a boa e correta escrita. – A literatura é o grande laboratório do tempo! O Brasil, acho, tem cinco estações de tempo: outono, inverno, primavera, verão e massacre. É na do massacre, sempre presente, que estão os roubos, os assassinatos, os incêndios devastadores e as chuvas torrenciais. Isso não ocorria no passado. É que esse passado não reconhece mais o seu lugar; está sempre presente neste presente enfermo! – É isso.
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor e Escritor.
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