Um Multiplicador da Vida Sustentável

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A moda do sustentável acabou banalizando o tema, situando-o apenas no chamado e decantado “Universo Corporativo”. Tal universo tem sido explicado por uma constelação de figuras carimbadas, “entendidas”, que chegam a cobrar de 10 a 15 mil reais por uma “palestra elucidativa” de 3 horas! – E o universo se enche de luz, de interação, de emoção, com direito a aplauso de pé! Não é esse o universo que pretendo tratar com este artigo. Sustentabilidade é um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais da sociedade humana. Para que um empreendimento humano seja sustentável é preciso que tenha 4 requisitos essenciais: economicamente viável, socialmente justo, politicamente correto e culturalmente aceito. 

Mia Couto, escritor moçambicano, em seu livro “O Último Vôo do Flamingo” tenta entender o que aconteceu com o seu país cuja história coletiva foi consumida pela ganância de dirigentes e, também, pela ignorância cívica de seus habitantes. Ele relata no livro a história dos flamingos que desapareceram, para sempre, de Moçambique, justamente esses pássaros reconhecidos como eternos anunciadores da esperança!

Todavia, foi lá em minha adolescência que conheci – e convivi – com um verdadeiro Quixote do universo sustentável. Surdo-mudo, pequeno e frágil, chamava-se Alcides. Nada se sabia de seus pais ou irmãos, seu sobrenome. Expulsava os gambás dos galinheiros; roçava as ervas daninhas ao redor das sedes das fazendas em troca de um caldo de feijão, um pedaço de pão e de uma pousada. – Ia sobrevivendo de roça em roça no eixo Muzambinho-Monte Belo, no Sul de Minas Gerais. Certa vez, logo ao amanhecer, acenou pedindo à dona América Bueno, 2 ovos, uma porção de farinha de trigo, açucar, fermento, leite e manteiga. Misturou tudo com uma colher de pau e levou ao forno para assar.. – Até hoje, eu sinto o cheiro e o sabor daquele bolo tão gostoso! – Foi a gratidão do Alcides pela acolhida da minha bisavó, dona da Fazenda Monte Cristo que ficava próxima a Monte Belo. Alcides foi o primeiro multiplicador da vida sustentável que conheci; ele podia chorar por não poder impedir a derrubada de uma árvore; tomar providências – todas ao seu alcance – para socorrer alguém passando fome!

O que tornava a vida mais familiar naquele tempo, desapareceu. O passado e a experiência das pessoas mais velhas já não servem de referência aos jovens ( esses que pensam que de tudo sabem!). A continuidade da verdadeira experiência quebrou-se! Sustentabilidade é, sobretudo, responsabilidade ética pela sobrevivência futura. Ninguém definiu melhor essa responsabilidade que Alexis de Tocqueville, escritor francês do Século 18: “A atitude que um cidadão toma pode ser escrita? – Pode ser publicada na primeira página de um jornal? – Pode ser deixada para seus filhos e netos?- Se a resposta for sim, a atitude é ética. Eis aí, portanto, a ética da sustentabllidade que preenche os 4 requisitos que mencionei no início deste artigo! Como os flamingos de Moçambique, Alcides não mais habita este planeta. Entretanto, ainda têm nele pessoas capazes de somar e pôr em funcionamento a necessária criatividade para reconstruí-lo e preservá-lo. – São pessoas (poucas) que são tão boas quanto a Primavera em flor: a essência da Sustentabllidade! – É isso.

 

Paulo Augusto de Podestá Botelho (Paulo Botelho) é Professor e Escritor.

Visite o Site https//paulobotelhoadm.com.br

 

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