O mundo mudou. Certamente está um pouco menor. As relações de poder estão bem diferentes de anos atrás. O centro da economia mundial está se deslocando, assumindo novos posicionamentos. E o Brasil não fica de fora dessa onda. Resumindo, o Brasil também mudou. Muita riqueza é gerada por aqui. Mas, como sabemos, o país é um dos maiores exemplos de má distribuição de renda no mundo.
E parte desse problema está na atividade política, que não contempla todos os estratos da população. A maior parte do povo, composta pelas classes mais baixas, não está devidamente representada nos meios políticos e não participa das principais decisões. Especialmente no Poder Executivo, ocupado predominantemente por pessoas brancas, de classe média ou acima.
Analisando rapidamente a situação de nossa cidade, concluímos que a esperança de mudança nesse panorama não pode ser vislumbrada até o presente momento. Isso fica muito evidente na composição das chapas que concorrem nas eleições majoritárias e proporcionais municipais do dia seis de outubro de 2024.
O último censo populacional, que deveria ter sido realizado em 2020, foi concluído em 2022 em razão da pandemia de covid. Os números apurados trouxeram algumas surpresas e também resultados já esperados. Dentre as projeções que se confirmaram está a constatação de que os pretos e pardos superaram os brancos no total da população.
De acordo com os números apurados, 55, 5% dos brasileiros são pretos e pardos. Ou 112,7 milhões de habitantes lá no ano de 2022. Números que, dois anos depois, certamente já foram ampliados. Então, não seria natural que uma porcentagem semelhante se apresentasse para ocupar os cargos políticos mais importantes?
MUZAMBINHO – Tomemos como exemplo o nosso município. De acordo com os números do ultimo censo populacional, realizado em 2022, temos aqui uma pequena maioria de habitantes do sexo feminino, repetindo a tendência nacional que é de 51,5%. Ou seja, aqui em Muzambinho o censo apontou que 50,17% da população é de mulheres.
Assim sendo, emulando os números apontados pela contagem da população e pensando em melhores níveis de representatividade, deveríamos ter pelo menos metade dos candidatos a prefeito também do sexo feminino. Mas temos somente uma candidata a vice-prefeita.
Aqui temos um desdobramento interessante também. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud – divulgado em 28/05/2024), as mulheres negras são a maior parte da população do país, ou seja, 28,5% dos brasileiros. Logo, deveriam também ter a sua cota efetiva de representatividade na política.
Com relação a pretos e pardos, de forma mais abrangente, essa ausência é igualmente notada aqui no município. Ainda de acordo com censo de 2022, mais de 26% da população de Muzambinho é composta por esse contingente. São 21,87% de pardos e 4,35% de pretos. A soma exata dos dois estratos dá 26,22%. Mais de um quarto dos habitantes locais. Um contingente bastante significativo, portanto.
E esse contingente é simplesmente ignorado na composição de todas as chapas concorrentes na eleição majoritária, destinada a preencher os cargos de prefeito e vice. Seria o caso de se concluir que os partidos não conhecem essa realidade? Ou seria mais correto concluir que isso é feito deliberadamente, com a nítida intenção de excluir do poder de decisão do município esse estrato da população?
Ou ainda poderia ser o resultado do total desinteresse por parte dessa importante camada da sociedade, desanimada com a falta de acesso a tais possibilidades?
A resposta pode ser dada pelos comandantes de cada agremiação partidária concorrente nas eleições municipais de 2024, detentores do poder que se revezam oportunamente, a cada disputa municipal.
Vamos lembrar novamente que as eleições municipais estão cada vez mais próximas. Elas são a mais pura expressão da democracia. Nessas eleições nós, cidadãos comuns, escolhemos os nossos representantes para o Executivo e o Legislativo municipal. É a forma mais incisiva de termos nossos representantes nesses poderes que são os mais próximos de nós.
No entanto, como deixamos bem claro no texto acima, seria muito mais saudável, democraticamente falando, que tivéssemos uma competição mais equilibrada e com melhor representatividade também de outras minorias.
Ainda que não seja a melhor situação, ou a situação desejada, temos que participar e opinar. Isso é primordial para podermos cobrar e criticar os futuros mandatários. Afinal, eles serão simplesmente empregados do povo, este sim o verdadeiro dono do poder na democracia.
Instituto Pensamento Presente (IPEN)