A crônica também é antiga (2006). Sou romântico, do tipo que ainda manda flores, ou as recebe. Das serenatas noite adentro, e da curtição em noites de lua cheia. Dizer que isso é antigo ou “démodé” é deixar de cultivar uma das maneiras de viver a vida numa boa, de só pensar aquele momento único, e mais nada. Ou, em outros iguais àqueles que vivenciamos. Esquecer tudo de difícil, de ruim, ou pensam que só temos bons momentos? Minhas ruas nessa cidade foram testemunha de muita cantoria. Vozes aveludadas, veladas vozes. Muito riso, muita alegria, muita rima, muita poesia! Os integrantes da parceria eram bons. Os poetas cantaram antes de mim que iriam fazer uma seresta, sem viola e sem violão. Sem luar, nem lua e sem lampião a gás… Como é isso? Aqui não era assim… Perguntem ao Laércio Borges; ao Jorge Nasser (Xupeta) e Domingos Virgílio e Genésio Rachid; Dunga; Daniel Vidigal; Chiquinho Floro e Zé Carlos Mariano; ao Pidinho (Dr Elpidio Freire); à Danúsia e Dídimo Paiva; Ovídio Lima; à Lúcia Borges. Cadê as serestas? Com viola e violão, com o luar do meu sertão, nas madrugadas frias, no sereno, nas subidas e descidas do caminho, nos muros e janelas do vizinho, pra moça que veio de fora, pros casais e pros velhinhos. No coreto – o antigo e histórico da Praça, nos alpendres, nas varandas… Todo lugar era incentivo para cantar e encantar. Há tempos, à noite, bem tarde, deparei-me com o Wender Cleyton Bueno, na Praça Santa Cruz. Violão debaixo do braço, caminhando e cantando com voz privilegiada que Deus lhe deu. Fazendo o quê? Serenata, com todas as letras e emoção! Voltei-me no tempo. Ah, como é bom poder voltar… De lembranças também se vive. Viram só os jovens hoje podem fazer como à moda antiga. Cantam, cultuam a noite e cantam em serenatas, cantemos com eles, é tempo!
Fernando de Miranda Jorge
Acadêmico Correspondente da APC
Jacuí/MG – e-mail: [email protected]